Uma manifestação antirracista foi realizada na noite deste sábado (20) no Carrefour de Caxias do Sul. O ato, que durou cerca de uma hora, começou dentro do supermercado com um grupo que se mobilizou pelas redes sociais e continuou no lado de fora da loja.
Aos manifestantes organizados, cerca de 10 pessoas que levavam cartazes contra o racismo, se somaram outras pessoas que pararam para assistir ao ato e também gritaram frases como “racistas não passarão” e "parem de nos matar". A mobilização faz parte de uma onda que ocorre em diversos locais do país após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos. O homem negro foi morto dentro de uma loja do Carrefour em Porto Alegre, na quinta-feira (19).
O protesto começou por volta das 18h45min dentro do supermercado, em uma área onde estão instaladas lanchonetes. Os manifestantes deram início ao ato com cartazes e frases de efeito. Em seguida, a autônoma Angelita Conte, 32 anos, usou tinta em cor avermelhada para cobrir o próprio corpo e se deitou no chão. Outros participantes do grupo pintaram no chão e em uma das paredes do prédio a frase “vidas negras importam”.
Clientes que estavam no mercado pararam para assistir e prestar apoio ao movimento, que continuou do lado de fora e ganhou novas adesões. Assim que o grupo deixou a unidade, o supermercado fechou a porta principal de acesso.
Em frente a este ponto, o ato continuou, com os manifestantes entoando frases como “racistas, fascistas não passarão”, além de terem desenhado um corpo, escrito "racistas assassinos" no chão e pendurado um pano preto na porta da loja. Pessoas que estavam no local, principalmente jovens, pararam para fazer coro neste momento. Pacificamente, os manifestantes foram para o estacionamento, onde ficaram por cerca de 10 minutos, avaliaram o ato como um marco na luta antirracista e se dispersaram.
— Ser negro no Brasil é carregar os dias contados. Choca muito ver um negro sendo assassinado, até porque a gente sabe que se fosse um cliente branco, ele não teria sido tratado com truculência. Eu vim para Caxias há mais de 15 anos. Uma vez trabalhando como frentista, eu não conseguia abrir um tanque de gasolina e um cliente disse pra mim que negro não sabia nada direito. Eu já fui recepcionada com muito racismo. Eu sou da grande Porto Alegre e eu sinto que ser negro é ter os dias contados. É não poder esquecer um documento em casa, é não poder carregar uma bolsa grande dentro do supermercado — emociona-se Angelita.
Pela manhã, uma parte do grupo tentou fazer o manifesto no supermercado, mas foi impedido de permanecer na área e, por isso, se manteve na parte externa, em um dos acessos ao estacionamento do empreendimento.