A 1ª Promotoria de Justiça Criminal de Gravataí conclui que os três policiais envolvidos na ocorrência que resultou na morte da costureira Dorildes Laurindo e nos ferimentos ao turista angolano Gilberto Casta Almeida, em maio deste ano, não tiveram dolo (intenção) em seus atos. Por isso, o promotor Fernando Bittencourt decidiu repassar o caso de volta à promotoria militar, para que se investigue eventual transgressão da disciplina.
O caso ocorreu em 17 de maio. O turista e a costureira viajaram para o Litoral Norte através do aplicativo Blablacar. Na volta, o motorista do carro, Luiz Carlos Pail Júnior, um foragido da Justiça por tentativa de feminicídio, fugiu de uma abordagem da Brigada Militar. Ao alcançar o veículo, os policiais atiraram 34 vezes contra o carro, resultando na morte de Dorildes e ferimentos a Gilberto — que ainda ficou 12 dias no sistema prisional até ter a inocência reconhecida. O motorista foi preso.
A conclusão do promotor é de que "não havia indícios, nos autos, de um ato intencional".
— Avaliando todo o inquérito, entendemos que não havia a intenção de matar por parte dos policiais e, em razão disso, opinamos para devolver os autos para a promotoria militar, para que eles avaliem e enquadrem os crimes da forma como entenderem correto — resumiu.
Sobre a denúncia de Gilberto, que contou que os policiais o ameaçaram dizendo "tu vai sangrar até morrer, capeta, exu do caralho", o promotor entende que deve ser apurado pela promotoria militar.
A Justiça deve se manifestar se concorda com a declinação de competência da promotoria.
Em 7 de agosto, os três policiais militares envolvidos no caso foram indiciados por crime militar, conforme informou a BM. O trio também deve responder ao Conselho de Disciplina no âmbito administrativo e deve permanecer afastado das funções até sua conclusão do caso.
Denúncia contra motorista
A promotoria também ofereceu denúncia contra o motorista do carro que fugiu da abordagem dos policiais. Luiz Carlos Pail Júnior foi denunciado por três tentativas de homicídio contra os policiais, porte ilegal de arma de fogo, desobediência e falsa identidade.
O promotor afirma que há indícios de que o homem atirou contra os policiais, apesar de a perícia ter sido inconclusiva. Ele se baseou na palavra dos três policiais e em fotos e vídeo, no celular do acusado, em que ele portava um revólver similar ao que foi apreendido.
O caso
Gilberto, que vive no Brasil há cerca de cinco anos, havia conhecido Dorildes pelas redes sociais e os dois mantiveram contato por quatro meses, até que ele decidiu viajar para o Rio Grande do Sul para conhecer pontos turísticos, como Gramado. O primeiro passeio no entanto, foi para Tramandaí, no Litoral Norte, onde mora um irmão de Dorildes. Para a viagem, contrataram Luiz Carlos — que usava CNH com nome falso de Emerson — por meio de aplicativo de viagens. Para retornar para Cachoeirinha, pegaram a viagem particular com o mesmo homem. A abordagem dos PMs aconteceu na madrugada de 17 de maio.
Primeiro, os PMs afirmaram que Luiz Carlos e Gilberto haviam atirado, mas a versão não foi aceita pela investigação da Delegacia de Homicídios de Gravataí. Ao serem ouvidos novamente pelo delegado Eduardo Limberger do Amaral, os policiais modificaram a versão. Afirmaram que Luiz Carlos havia atirado ao descer do Palio Weekend. Quanto a Gilberto, não souberam informar se ele realmente empunhava uma arma. Conforme a ocorrência, apenas um revólver foi apreendido no local.