Ao longo dos últimos três meses, investigação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Novo Hamburgo descobriu que dois DJs foram submetidos ao tribunal do tráfico e sentenciados à morte. Os corpos de Leonardo Scherer Kologeski, 21 anos, e Diego Lafourcade, 36 anos, foram localizados no início de maio.
Moradores de Porto Alegre, eles foram executados a tiros na região conhecida como Prainha, no município do Vale do Sinos. Até o momento, sete suspeitos foram presos e um teve a prisão decretada, mas está foragido. O grupo foi indiciado por envolvimento no crime e no tráfico de drogas.
Uma das principais dúvidas desde o início da apuração era por que as vítimas, que residiam na Capital, estavam em Novo Hamburgo naquela noite. No local onde eles foram encontrados mortos havia um Gol, que não pertencia a nenhum dos dois – o veículo havia sido alugado por Leonardo em uma concessionária.
Segundo o delegado Márcio Niederauer, titular da DHPP, o que levou os dois DJs até o Vale do Sinos foi um esquema envolvendo o tráfico de entorpecentes. Embora não tivesse antecedentes, segundo a polícia, Leonardo estava atuando na compra e transporte de drogas para uma facção criminosa.
— Temos farto material comprovando isso. Em relação ao Diego, não ficou claro se ele participava ativamente disso, mas naquela noite estava junto do Leonardo — explica.
Na noite de 1º de maio, segundo a polícia, os dois foram até um ponto de tráfico no Morro da Formiga, bairro Rondônia, em Novo Hamburgo. Lá teriam entregue cerca de R$ 60 mil para adquirir cinco quilos de crack. A droga deveria ser revendida em outras cidades. A investigação apurou que a compra foi realizada a mando de um dos gerentes da facção do Vale do Sinos, que está preso na Penitenciária Estadual Modulada de Charqueadas. De dentro do presídio, ele comanda a distribuição de drogas para uma área do Estado. Leonardo, segundo a polícia, se reportaria diretamente a ele.
A investigação descobriu que, quando retornava de Novo Hamburgo, por telefone Leonardo confirmou ao grupo criminoso que havia pego os entorpecentes, mas admitiu que não havia conferido a quantidade. Foi orientado a verificar se realmente havia cinco quilos, mas respondeu que só encontrou quatro tijolos da droga. A falta de um quilo teria gerado atrito entre a parte da facção comandada pelo detento de Charqueadas e a outra célula, chefiada por um preso do Presídio Central, de quem havia sido feita a compra das drogas.
Também por telefone, Leonardo teria sido orientado a deixar os quatro quilos de crack em outro local e voltar até Novo Hamburgo para acertar a situação. No trajeto, o carro onde os DJs estavam furou um pneu, o que teria deixado os traficantes ainda mais irritados e desconfiados com a demora.
— Ele dizia ter pego somente quatro quilos, e o outro dizia ter entregue os cinco. Isso gerou uma discussão entre os dois lados, para saber quem estava falando a verdade. Quando chegaram a Novo Hamburgo, para entender o que aconteceu com a droga, os dois foram levados ao local da execução. Já foram para lá com a ideia de matá-los — detalha Niederauer.
Os DJs teriam se encontrado com outros cinco integrantes da facção — todos foram indiciados pelo crime. De carro, seguiram até a Estrada Leopoldo Petry, bairro Lomba Grande. A área erma é conhecida como ponto para execuções e abandono de veículos roubados. Na região da Prainha, ele foram julgados pelos dois líderes de dentro da cadeia. Por fim, entenderam que o quilo de crack teria sido desviado e decidiram executá-los — a investigação não conseguiu apurar se realmente houve o desvio.
Ao saber da sentença, Leonardo chegou a se comprometer a pagar o valor, segundo a polícia. Mas, ainda assim, os dois foram mortos. Cada um foi executado com pelo menos três disparos de arma de fogo — foram encontrados no local estojos de pistola 9 milímetros. Durante a investigação, a polícia apreendeu os dois veículos que teriam sido usados para seguir com as vítimas até o local do crime e no painel de um deles havia um compartimento secreto para o transporte de drogas. Ao longo da apuração, também foram apreendidos entorpecentes com os investigados. Na prisão em Charqueadas, de onde teria partido a ordem para a execução, foram encontrados três celulares. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados pela Polícia Civil.
Os investigados
Ao todo, oito pessoas foram indiciadas em inquérito remetido na semana passada ao Judiciário. Três executores foram presos na primeira fase da operação, em junho. Um deles teria sido o responsável pela entrega da droga a Leonardo. Após a prisão deles, um dos líderes — que antes estava no Presídio Central, mas havia recebido benefício de cumprir pena com tornozeleira eletrônica — fugiu. Segundo a apuração, ele permaneceu escondido em um sítio em Portão e depois escapou em direção a Santa Catarina. Mas acabou sendo preso pela Polícia Civil, com apoio da Polícia Rodoviária Federal.
Além deles, o detento que segue em Charqueadas também teve prisão preventiva decretada no fim da semana passada, e outro que teria participado da execução também foi preso. Outro indiciado, que teria participado da execução, é considerado foragido. Um suspeito de integrar o grupo criminoso, de 27 anos, que não possui vínculo direto com o homicídio, mas é apontado como braço direito de um dos chefes, estava sendo procurado pela polícia e foi preso nesta sexta-feira (8), em Campo Bom. Ele estava com prisão preventiva decretada.
Com exceção do preso nesta sexta-feira, que não teve vínculo com os assassinatos identificado, todos respondem pelo duplo homicídio qualificado, organização criminosa, tráfico de drogas, associação para o tráfico e porte ilegal de arma de fogo.
Os seis indiciados pelo duplo homicídio já presos negaram envolvimento com o crime ou se negaram a prestar depoimento.