O pai Alessandro dos Santos, 34 anos, e a filha Kétlyn Padia dos Santos, 15 anos, viviam na residência da tia da adolescente, Diênifer Padia, 26 anos, irmã da mãe de Kétlyn, em um bairro de classe média em Passo Fundo, no norte do RS. Após o jantar na noite de terça-feira (19), os três foram assassinados por dois homens que teriam invadido a casa. Os corpos foram sepultados às 16h30min desta quarta-feira (20). A Polícia Civil investiga o caso e busca a motivação do crime.
Santos perdeu a vida no dia em que conseguiu encaminhar o seguro-desemprego. Havia sido demitido há menos de um mês, após a falência da empresa de ônibus onde trabalhou por 10 anos como cobrador. Ainda que sem emprego, mantinha-se otimista e estava procurando uma nova colocação no mercado.
— Ele já estava largando currículos, era uma pessoa que trabalhou a vida toda. Nunca teve inimizade com ninguém. Nunca tinha ruim para ele. Ele vivia para trabalhar e cuidar da filha. Não tem explicação. Eles moravam numa casa grande, bem protegida. A gente não tem nem o que pensar — lamenta a irmã de Alessandro, a doméstica Franciele dos Santos, 39 anos.
Há 16 anos, era casado com a mãe da Kétlyn, técnica de enfermagem que atua no Hospital de Clínicas de Passo Fundo. No momento do crime, ela estava dormindo na casa da mãe, nos fundos do mesmo terreno.
Era uma pessoa que trabalhou a vida toda. Nunca teve inimizade com ninguém. Nunca tinha ruim para ele. Ele vivia para trabalhar e cuidar da filha. Não tem explicação. Eles moravam numa casa grande, bem protegida. A gente não tem nem o que pensar.
FRANCIELE DOS SANTOS
Irmã de Alessandro
Filha única do casal, Ketlyn jogava bola com o pai, com quem dividia a paixão pelo Internacional. A adolescente, que impressionava com a semelhança física ao pai, era apaixonada por futebol, estudiosa e tinha planos de ser policial.
— Ela era só uma criança. Uma menina comportada, estudiosa, que estava sempre dentro de casa. Não tinha namoradinho. Não dava trabalho nenhum — recorda Franciele.
Devido ao distanciamento social, Santos visitava a mãe e a irmã com menos frequência mas não deixava de fazer contato pelo telefone com a família:
— Mesmo sem o emprego, ele estava feliz. Tentando se virar. Era uma pessoa alegre, gostava de viver. Encarava os problemas que tinha de encarar — comenta Franciele.
Vítima estava animada com nova loja
Caçula de quatro irmãos, Diênifer Padia, 26 anos, viveu três anos no interior do município de Casca trabalhando com suinocultura. No período, juntou dinheiro para a guinada profissional que estava prestes a dar: abrir uma loja de roupas no centro de Passo Fundo. Há 10 meses, havia retornado à cidade onde vivia com os três filhos — dois meninos, um de seis e outro de três anos e uma bebê de um ano e meio — além da irmã, o cunhado Santos e a sobrinha Kétlyn. Mãe solteira, assumiu sozinha a criação das crianças.
Ela estava muito faceira, era dedicada a tudo que fazia. Batalhava. Sempre criou os filhos sozinha, não tinha ninguém. Não sei quem se motivou a fazer uma coisa dessas.
LUIZ PAULO PADIA
Irmão de Diênifer
Animada com a nova fase, Diênifer esperava apenas o fim da pandemia de coronavírus para abrir seu comércio. Já havia comprado as peças e tinha os manequins. Tudo guardado na casa dela:
— Antes dela conseguir estrear a loja, fazem uma coisa dessas. Anteontem, ela me ligou em vídeo para mostrar as peças de roupa. Ela estava muito faceira, era dedicada a tudo que fazia. Batalhava. Eu ainda disse que trocaria de carro e a levaria para Santa Catarina para comprar mais mercadoria, ela me alertou para esperar a pandemia passar. Ela sempre criou os filhos sozinha, não tinha ninguém. Não sei quem se motivou a fazer uma coisa dessas — conta o irmão, o suinocultor Luiz Paulo Padia, 29 anos.
A vida de Diênifer foi abreviada justamente no momento em que ela buscava um novo caminho:
— Era uma pessoa doce e amiga, muito vaidosa, vivia se arrumando e cuidando do corpo. Estamos sem noção, tentando ser forte pelas crianças. Tentando nos organizar — afirma a prima da jovem, Paula da Rosa, 24 anos.
Filhos de Diênifer estavam na residência no momento do crime e foram colocados em um quarto escuro da casa pelos suspeitos.