A Polícia Civil de Guaíba diz estar perto de desvendar o que aconteceu com o motorista de aplicativo Rafael do Nascimento da Silva, 31 anos, desaparecido desde quinta-feira (6). No sábado (8), seu Voyage branco foi encontrado incendiado na Estrada do Petim, área rural do município da Região Metropolitana, a 10 quilômetros da casa onde mora com os pais de criação. Foi solicitada perícia no veículo e no local onde o carro foi queimado, mas a delegada Karoline Calegari ainda não recebeu os laudos.
— Estamos trabalhando bastante, fazendo diligências ininterruptas para encontrar o corpo. A investigação aponta para uma linha muito forte de homicídio. Não posso dar mais detalhes porque o inquérito está sob sigilo neste momento — pontuou a delegada.
A peregrinação da família atrás de informações sobre o paradeiro de Rafael começou pouco depois das 18h de sexta-feira (7). Neste horário, um amigo contou para Aielo Nascimento Quintana, 38 anos, irmão de criação do condutor, que ele estava desde a madrugada sem visualizar mensagens no grupo de WhatsApp dos motoristas de aplicativo de Guaíba.
Depois de se certificar de que o celular do irmão estava mesmo desligado, Aielo ligou para os parentes em Santo Antônio da Patrulha, falou com a ex-mulher de Rafael, mas ninguém tinha notícias dele. Descobriu, então, que foi ele próprio quem viu o irmão pela última vez. Na tarde de quinta-feira (6), os dois se beijaram no rosto, numa demonstração de carinho que nutrem um pelo outro desde a infância, combinaram de fazer churrasco no dia seguinte e se afastaram. Rafael saía naquele momento para trabalhar.
— Ele fica dois dias fora de casa às vezes. Vai com frequência visitar o pai biológico em Santo Antônio da Patrulha ou dorme na casa de amigos que tem aqui na região ou em Tramandaí. Até sexta-feira, ninguém estava preocupado por ele não ter dormido em casa — explicou. — É meu irmão de criação, mas tenho um amor muito grande. Aquele pode ter sido o último beijo que dei nele — complementou.
Rafael faz parte de uma torcida organizada do Grêmio e é conhecido entre os amigos como Gordão da Geral. Está separado há cerca de um ano da ex-mulher, com quem tem um filho de oito anos. Trabalhou por quase uma década em uma montadora de carros em Gravataí como soldador, de onde saiu há cerca de dois anos. A partir da demissão, começou a fazer corridas particulares e por aplicativo.
O motorista perdeu a mãe quando tinha dois anos. A pedido dela, foi criado pelos tios, em Guaíba, mas nunca se afastou do pai biológico, morador de Santo Antônio da Patrulha. Também não tem passagem pela polícia.
— Tem bastante amigos, um cara de coração enorme, de amizade fácil e que não tem maldade. Isso faz acreditarmos que ele aceitou uma corrida de alguém que não conhecia e que fez alguma coisa — contou Aielo.
Últimos passos
Para se protegerem de assaltos, os motoristas de Guaíba criaram alguns mecanismos, como mandar mensagem com a localização em tempo real para o grupo de WhatsApp no início do expediente. O protocolo pede que o fornecimento da localização seja desativada somente ao final da última corrida. Ao fazer isso, o motorista tem de enviar a palavra "off", sinalizando que não está mais trabalhando.
Rafael seguiu a regra, mas demorou 1h22min entre encerrar a localização e mandar a mensagem. Conforme os registros, ele estava em Guaíba quando desligou o GPS às 23h30min. A palavra "off" foi enviada somente à 0h52min de sexta-feira (7). Quando o amigo levou esses dados a Aielo, as buscas tiveram início.
A delegada Karoline Calegari pede que informações sobre o caso sejam repassadas para ela ou para a equipe de investigação diretamente na delegacia de Guaíba ou pelo telefone (51) 3402-0230.
— Qualquer informação é importante e será mantido o sigilo da fonte — garantiu.