
O Ministério Público (MP) quer ouvir mulheres que relatam ter sido agredidas por um homem, que está foragido após um caso de tentativa de feminicídio em Porto Alegre. O músico Thiago Guedes Pacheco, 39 anos, é procurado pela polícia após a ex-namorada ter sido espancada na zona sul da Capital. Além da psicóloga, desde 2011, outras quatro mulheres que contam ter sido vítimas do homem foram ouvidas por GaúchaZH.
A promotora Carla Souto, da Promotoria de Justiça Especializada de Combate à Violência Doméstica e Familiar, afirma que o MP está disponível para ouvir as mulheres, analisar cada caso e orientá-las.
— Esse caso é muito grave. Precisamos que essas outras vítimas saibam que estamos aqui para atendê-las. Podemos ver a situação individualizada, saber o que aconteceu em cada um dos processos. E o que pode ser feito em cada um deles. Para nós, enquanto promotores, esse contato é importantíssimo. Elas têm de enxergar que estamos ali na defesa das vítimas — afirma Carla.
Após a psicóloga, Nadia Krubskaya Bisch, 36 anos, divulgar seu caso nas redes sociais, passou a ser procurada por outras mulheres que também relatam ter sido agredidas. Além das cinco mulheres ouvidas por GaúchaZH, conforme Nadia,outras cinco lhe procuraram, num total de 10 até o momento. Uma delas contou ter sido vítima no ano de 2004. No entanto, nem todas elas registraram ocorrência. Essas mulheres também podem fazer contato com MP, que analisará o que pode ser feito em cada situação.
— Ela vai ter uma resposta do que aconteceu com o registro. Se não fez, o que pode ser feito ainda. O ciclo da violência é extremamente complexo. Raramente, o primeiro registro coincide com a primeira agressão. Essas mulheres precisam nos enxergar como suporte nessa situação e saberem que quando decidirem pedir ajuda também somos uma porta de entrada para ouvir e auxiliar — reforça a promotora.
O serviço
As vítimas podem procurar a Promotoria de Justiça Especializada de Combate à Violência Doméstica e Familiar. O atendimento é realizado no Instituto de Previdência do Estado (IPE) do Rio Grande do Sul, na Capital (Avenida Borges de Medeiros, 1.945). Para agilizar o atendimento, pode ser feito contato por telefone para agendamento nos seguintes números: 51-3295-9782 ou 3295-9700.
As agressões
O episódio mais recente, que levou à decretação da prisão preventiva do músico, aconteceu na madrugada de 8 de dezembro. Segundo a psicóloga, o ex-namorado, contra quem tinha medida protetiva, tentou matá-la. O caso aconteceu 10 dias depois de ele permanecer uma noite detido e ser solto por decisão judicial. Ele foi indiciado por tentativa de feminicídio e teve a prisão decretada outra vez, mas não foi encontrado e é considerado foragido.
Após expor o caso nas redes sociais, a psicóloga passou a ser procurada por outras ex-namoradas de Pacheco, que também relatam ter sido vítimas dele. Entre elas, uma nutricionista, de 34 anos, que chegou a se mudar do Rio Grande do Sul para não ter mais contato com o músico. Além de Nadia, outras quatro mulheres foram ouvidas pela reportagem de GaúchaZH. Elas relatam ter sido agredidas entre os anos de 2011 e 2019, quando a psicóloga foi vítima de tentativa de feminicídio. Na madrugada de 8 de dezembro de 2019, Nadia chegava em casa quando encontrou com o ex em frente ao condomínio.
— Começou a me dar tapas, puxões de cabelo. Me estrangulava, apertava meu pescoço e dizia: “Para de gritar. Vou te matar”. E eu sem respirar. Me jogava de volta dentro do carro. Me batia. Na terceira vez em que tentei sair, fiquei sem ar. Começou a ficar tudo escuro, meu corpo dormente. Só pensava que não podia apagar. Ele cerrava os dentes e dizia: “Dessa vez, vou te matar”. Então fingi. Amoleci o corpo, como se tivesse apagado — contou Nadia à reportagem.
Depois disso, Nadia conta que teve o corpo jogado para dentro do carro, mas permaneceu com as pernas para fora. Enquanto ele tentava fechar a porta, outra pessoa interveio. Foi esse motorista que a levou até um posto, onde a Brigada Militar foi chamada. Fisicamente, a psicóloga ficou com hematomas no rosto e no corpo, fraturas nos joelhos e dificuldade para engolir. Emocionalmente, ainda não sabe quanto tempo levará para superar o trauma. Ela deixou a casa onde residia e está abrigada na residência de familiares.
— Acordo com sensação de estrangulamento. E tem a culpa, a vergonha de ter me envolvido. Nunca tinha vivido um horror desses — relatou.