O caso do menino Bruno Leal da Silva, que desapareceu no Litoral Norte em 1999, completou 20 anos, em julho, sem solução. A família, contudo, não desiste das buscas.
Entre as tentativas mais recentes de encontrá-lo, está a coleta da amostra de DNA da mãe do menino, que foi enviada a um banco internacional para comparação. A pedido da RBS TV, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) fez um retrato falado de como Bruno estaria hoje, com 30 anos.
— Meu coração me diz que eu vou encontrar ele vivo — confia a mãe, Devercina França Leal da Silva, que recebeu o retrato falado do IGP.
A imagem foi produzida a partir das características mais fortes das duas famílias, com base em uma foto do menino.
Esperança renovada
A amostra de DNA de Devercinda foi colhida em outubro, e o material genético, enviado para o banco internacional. Na comparação com os dados disponíveis, não houve nenhuma confirmação.
No Brasil, também existem bancos, mas para exames criminais. Nesses bancos, não houve a confirmação na comparação com os dados de desaparecidos ou de restos mortais que já tiveram DNA coletados.
— O banco de desaparecidos, tanto no Estado do Rio Grande do Sul quanto o banco nacional de perfis genéticos, existe desde 2011. Ele permite a inserção de vestígios criminais e, a partir de 2012, condenados por crimes hediondos ou de grave violência. Ele também permite a inserção de familiares de pessoas desaparecidas e de restos mortais que não tiveram nenhuma identificação nas perícias estaduais de maneira que se possa fazer o confronto entre esses desaparecidos e essas famílias que estão buscando seus entes queridos — explica o chefe da Divisão de Genética Forense do RS, perito criminal Gustavo Lucena Kortmann.
Foi procurando em redes sociais na internet que Devercinda encontrou um grupo que ajuda pessoas a localizar familiares desaparecidos. Ela fez contato, relatou sua história e recebeu um kit para coletar os dados biológicos para o banco.
Os grupos são fechados e com integrantes espalhados pelo mundo. Eles preferem o anonimato, já que ajudam a desvendar casos de paternidade e até tráfico internacional de crianças.
Desaparecimento
Bruno desapareceu no dia 10 de julho de 1999, em Imbé.
— Era um sábado de manhã. Ele pediu para ir no serviço do pai dele, que era em Atlântida Sul, aqui pertinho, não dá 10 minutos. De bicicleta. E eu deixei ele ir. Nesse dia, ele saiu por volta de 8h30min, 9h. Aí, quando meu marido chegou em casa, eu perguntei pelo Bruno, e ele disse: "Não, mas o Bruno não foi lá". Eu disse: "Foi, o Bruno saiu daqui para ir". Ele disse: "Mas o Bruno não apareceu lá" — lembra a mãe.
Até que o meu marido foi para a beira da praia e pegou a moto. Andou por essas ruas aqui e achou a bicicleta dele. Achou a bicicleta do Bruno.
DEVERCINA LEAL DA SILVA
Mãe de Bruno
— Quando eu voltei para procurar o Bruno, eu não encontrei. Daí olhei aqui, a gente viu o rastro da bicicleta e resolvei descer pela beira da praia. Tinha um rastro de pessoa adulta e tinha um rastro de um carro que tinha encostado bem onde estava a bicicleta — recorda o pai, Nazareno Cardoso da Silva.
A partir daquele momento, o desaparecimento do menino virou um dos principais casos policiais do Rio Grande do Sul.
Ajuda de vidente, suspeita de magia negra e prisões
O homem apontado pela Polícia Civil como o principal suspeito foi localizado pela RBS TV e negou envolvimento na história — disse que, mesmo sem haver responsabilização, o fato "acabou com a vida dele".
Apesar da denúncia do Ministério Público, não houve processo por homicídios. Suspeitos chegaram a ser presos, mas foram liberados.
— O que se tem não é um caso de homicídio, mas sim de um desaparecimento de uma criança que não foi esclarecido pela investigação. A maior prova de que não se pode começar um processo por homicídio é o fato de que não só a mãe da suposta vítima como todo o contexto da investigação atual não descarta a possibilidade de ele estar vivo — analisa o juiz Emerson Silveira Mota.
Hoje, o delegado que investigou o caso é advogado e trabalha em Santa Catarina.
— Eu acho que dificilmente o Bruno está vivo, mas é uma das possibilidades. O que a gente sabe é que o menino teve a bicicleta abalroada. Agora, o destino que esse menino teve ficou em aberto até pela razão da investigação não prosseguir. Temos certeza, em prova técnica, que ele (motorista) derrubou o menino da bicicleta. Agora, se foi propositalmente, se foi um acidente de trânsito.... — comenta Juarez Francisco Mendonça.
Arquivos revisitados
O atual delegado de Imbé, Antônio Carlos Ractz Júnior, decidiu procurar os arquivos do caso:
— Desde quando cheguei aqui, ouço falar dessa história.
Os pais têm esperança até hoje. Então como é que eu, um delegado de polícia, vou dizer para a mãe desistir? Como é que eu vou dizer para uma mãe desistir de procurar seu filho?
ANTÔNIO CARLOS RACTZ JR.
Delegado de Imbé
Ractz tomou a iniciativa de ler todos os documentos da investigação.
— O caso que foi arquivado em tese só pode ser reaberto se houver novas provas e desde que não tenha ocorrido a prescrição. Por isso, esse cuidado de poder ou não reabrir o inquérito policial — acrescenta. — Os pais têm esperança até hoje. Então, como eu, um delegado de polícia, vou dizer para a mãe desistir? Como vou dizer para uma mãe desistir de procurar seu filho? Ainda mais que não há prova alguma de que realmente ele esteja morto. Embora tenham decorrido todos esses anos.