Cobrança de valores de comerciantes, desvio de material apreendido, associação com traficantes de drogas e com o jogo do bicho. Esses são alguns dos crimes investigados pela Corregedoria Geral da Brigada Militar contra policiais do 24º Batalhão de Polícia Militar, de Alvorada. Onze agentes foram afastados das funções sendo cinco deles presos nesta quinta-feira (19) por participação em supostos crimes.
A investigação teve início há mais de um ano, a partir de uma ocorrência registrada em local distante mais de 100 quilômetros de Alvorada. Em 12 de dezembro, um brigadiano era morto e outro preso pela própria Brigada Militar em um cerco após roubo de três residências em uma área pacata entre Caxias do Sul e Nova Petrópolis. O agente preso na ocasião era lotado no 24º BPM.
— A partir de então, passamos a fazer o monitoramento, controle, investigação de perto de policiais que tinham relação com aquele preso — explicou o corregedor-geral, coronel Marcio Galdino.
Em um ano de monitoramento, os agentes da corregedoria descobriram a série de crimes. Souberam, também, que não havia unidade nas ações: as práticas eram recorrentes por parte de diversos agentes, que agiam em diversos bairros da cidade.
Durante o período da investigação, um soldado foi preso. Diego Silveira Mangia é o mesmo policial que havia sido detido na operação na Serra. Em janeiro de 2019, ele também havia sido preso ao ser flagrado com uma motocicleta roubada.
Quem protege os maus, ofende os bons. No meio de excelentes policiais, há pessoas que não condizem com as atitudes e correição que esperamos de um policial militar
CORONEL MARIO GALDINO
Corregedor da Brigada Militar
Foram concedidos pela Justiça 30 mandados de busca e apreensão, cumpridos em residências ligadas aos policiais desde as primeiras horas da manhã desta quinta. Ao todo, 150 agentes da corregedoria cumpriram os mandados. Foram apreendidas munições, armas sem registro e dinheiro sem comprovação de origem, além de anotações de cobranças.
Os crimes
A investigação apurou que comerciantes da cidade vinham sendo cobrados pelos policiais, que prometiam segurança em troca de dinheiro. Quem não pagasse, poderia estar em risco.
A apuração também descobriu que drogas e dinheiro apreendidos em ações em pontos de venda não iam para a Polícia Civil, mas para o bolso dos policiais.
— Em vez de fazer a entrega na delegacia, eles se apropriavam e, a partir daí, negociavam com os traficantes — disse Galdino.
A relação com o jogo do bicho também é investigada. Os policiais estariam recebendo dinheiro para fazer "vistas grossas" aos donos das bancas.
Também havia um esquema com guinchos em Alvorada, segundo a corregedoria. Em algumas ocasiões, carros eram parados em barreiras por alguma possível irregularidade e os motoristas de caminhões que vinham buscar tinham acerto prévio com os soldados.
Além disso, é apurada a fabricação artesanal de munição pelos policiais, que supostamente seria vendida para criminosos da cidade.
Investigada participação de outros policiais
A corregedoria não descarta a participação de outros policiais. Diz, no entanto, que o comandante da unidade e outros colegas provavelmente "não tinham ciência" do ocorrido.
O corregedor alega que Alvorada "vem alcançando bons níveis de combate à criminalidade" e que a "maioria dos policias do batalhão não tem envolvimento com crimes".
— Quem protege os maus, ofende os bons. No meio de excelentes policiais, há pessoas que não condizem com as atitudes e correição que esperamos de um policial militar.
Até o momento, a informação é de que nenhum oficial da corporação (capitão, major, coronel) está envolvido. Os nomes dos policiais investigados não foram revelados pela corporação.