O terror imposto por sequestradores contra o vereador de Vila Maria Jonatas Sciota Dala Cort, 25 anos, e sua namorada, Josiane Nascimento da Silva, 21, acabou devido a um momento de distração da quadrilha. Enquanto estava em uma agência bancária de Osório, no Litoral Norte, sendo ameaçado pelos criminosos para entregar R$ 104 mil, o parlamentar conseguiu escrever um bilhete pedindo socorro.
Segundo o termo de depoimento da vítima, ao qual GaúchaZH teve acesso, um pedaço de papel foi solto em meio ao banco alertando sobre o sequestro e iniciando a investigação que deu fim à empreitada da quadrilha.
O burburinho sobre o crime na agência começou a correr até que a Polícia Civil foi avisada. A equipe do delegado Valdernei Tonete foi ao banco e conseguiu realizar a primeira prisão.
Com um dos sequestradores presos e o vereador resgatado, a polícia ouviu detalhes sobre o ocorrido e pediu o endereço do cativeiro — onde ainda era mantida a namorada do parlamentar, sob poder de outros criminosos. A mesma equipe de agentes foi até a casa, no bairro Medianeira, na mesma cidade, e libertou a outra vítima, prendendo outros dois criminosos. Há a suspeita de que alguns fugiram.
Na casa, foi encontrado um revólver e celulares, que foram apreendidos para a investigação. O bilhete escrito pela vítima também consta no inquérito.
No depoimento, Dala Cort dá detalhes de como os fatos aconteceram. Ele explica que saiu da Região Norte às 5h30min de quarta-feira (2) com destino a Osório para ver uma retroescavadeira. O anúncio do equipamento agrícola havia sido visto por ele em um site de vendas da internet.
O ponto de encontro seria um posto de combustível, onde o suposto vendedor aguardava o vereador e a namorada. O criminoso chegou a compartilhar sua localização com os comparsas para facilitar ser encontrado.
De acordo com o depoimento, o suposto vendedor pediu para ir no carro do casal até o sítio, onde estaria a retroescavadeira. No meio do caminho, em estrada vicinal, o criminoso solicitou que o parlamentar parasse o carro. Disse que precisava verificar gado.
Criminosos saíram de matagal
Após parar o veículo, como fora solicitado pelo suposto vendedor, o casal se viu cercado: criminosos saíram de matagal e se aproximaram do carro. Naquele momento, uma arma foi apontada contra Dala Cort e o crime foi anunciado.
Os criminosos entraram no carro da vítima e guiaram o veículo pela estrada de chão batido até encontrar o restante do grupo, que aguardava em um Corolla. Dali, o casal foi levado ao cativeiro. A namorada do vereador foi mantida no local enquanto ele foi com um sequestrador para o banco, na área central da cidade.
Um fato inesperado acabou ajudando o vereador. Ao tentar transferir os R$ 104 mil no primeiro dia do sequestro, na quarta-feira (2), o banco recusou por um problema de documentação. Por isso, Dala Cort teve de voltar no dia seguinte. Como o processo de transferência do valor demorou, aumentando o tempo que o vereador e o sequestrador permaneceram dentro da agência, houve brecha para que a vítima escrevesse o bilhete que culminou na prisão da quadrilha.
Contatado por GaúchaZH na sexta-feira (4), o vereador se disse muito abalado pelo ocorrido e preferiu não dar declarações. Ele se resumiu a dizer que ele e sua namorada estão "bem fisicamente".
Os presos no Rio Grande do Sul são Douglas Vieira de Souza, 26 anos, Lindomar Ferreira Armichi, 43, e Felipe Lopes Neto, 33. A reportagem tenta contato com a defesa deles.
Conta que receberia a quantia é do Paraná
A conta bancária destinatária dos R$ 104 mil do vereador era de Londrina, no Paraná. A polícia conseguiu rastrear o nome do titular e avisou aos policiais civis daquele Estado. Os agentes prenderam o homem assim que ele chegou no banco, na noite de quinta-feira (3).
A Polícia Civil do Paraná informou que "durante a captura do conduzido, foram localizados, em sua posse direta, inúmeros documentos, dentre eles extrato bancário em que se verifica fluxo significativo de valores".
O nome do preso é Antônio Elias Lopes, de 52 anos, um comerciante sem antecedentes. Ele alegou que não sabia da existência do sequestro em Osório. Disse que emprestava suas contas e criavas novas para a utilização de terceiros, sendo que recebia mensalmente a quantia de R$ 1 mil para isso. Afirmou, também, que as contas eram mantidas por cerca de quatro meses e encerradas.