Um assassinato brutal, precedido de um possível estupro e ocorrido em um local de grande circulação de pedestres e veículos, intriga investigadores da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam). O crime foi descoberto por volta das 11h30min desta terça-feira (11), quando as autoridades foram avisadas de que o corpo de uma mulher estava no Túnel da Conceição, no centro de Porto Alegre.
Ao menos quatro viaturas da Polícia Civil se aglomeraram no local, bloqueando a faixa da direita da Rua da Conceição, no sentido do centro para o bairro, das 12h até as 13h30min. Com isso, longas filas de veículos se formaram, com reflexos na Avenida Presidente Castello Branco.
A polícia estava em um vão entre o túnel e um prédio, onde o corpo foi encontrado. Próximo dali, pessoas que se apresentavam como amigas da vítima reclamavam da violência da região e gritavam "feminicídio". Elas chegaram a bloquear a passagem de veículos em um breve protesto.
— Mais uma mulher se foi, estuprada e morta. Choro porque é uma de nós, porque conhecia ela — diz Suzana Nogueira, 40 anos, amiga da vítima.
Segundo Suzana, a mulher era identificada apenas como "Carina" e vivia há anos na região do Centro. Uma outra amiga, Caroline Constante Leites, 23 anos, disse que esteve com a vítima na segunda-feira (10), no Camelódromo. A última lembrança das duas juntas é feliz:
— A gente estava junto, conversando, dando risada. Um momento feliz. Aí hoje uma pessoa da rua me encontrou e disse que tinha uma pessoa morta no túnel e vim ver. Não acreditei — diz Caroline, que se lembra de Carina como uma "ótima pessoa".
De acordo com as amigas, a vítima trabalhava como prostituta no Centro e morava em pensões. As duas disseram que ela bebia, mas negaram que consumia drogas. O mesmo relato foi feito à Polícia Civil.
A delegada Karina Heineck, que assumiu a investigação, diz que encontrou no local do crime uma pedra com sangue, possivelmente usada para assassinar a vítima. O objeto foi recolhido para perícia.
Os agentes perceberam sinais de que a mulher brigou com o assassino. Por isso, solicitaram que o Instituto-Geral de Perícias (IGP) recolha o material genético embaixo das unhas da vítima, suas roupas, sangue e ainda possíveis digitais pelo corpo. Também será feita análise de um preservativo encontrado no local.
— Enquanto aguardamos os laudos, vamos diligenciando de outra forma. Vamos atrás de câmeras de rua, tentaremos contato com essas pessoas que diziam conhecê-la. Depois que, eventualmente, encontremos um suspeito, vamos fazer confronto com o material (recolhido pelo IGP) — diz a delegada.
A polícia ainda tenta determinar o horário em que a mulher foi morta. Imagina-se que tenha sido durante a madrugada, mas ainda não há certeza.
Região violenta
O trecho onde o crime aconteceu é apontado por moradores e frequentadores da região como violento. O caminho é muito movimentado e importante para para quem vai a hospitais, faculdades e colégios no centro.
Zelador de prédio limítrofe ao túnel há 20 anos, José Ribeiro, 60, diz que são comuns casos de moradores e pedestres assaltados nas proximidades do túnel. Da escadaria, ao lado do Hospital Beneficência Portuguesa, vem a maior parte dos relatos.
— É toda noite. Usuários de droga, prostituição. É raro o dia que não tem assalto na região da escadaria — reclama.
A própria delegada, questionada sobre a segurança da região, declarou que recebeu nesta terça-feira (11) a informação de que um ponto de venda de drogas funciona próximo ao túnel. No entanto, ela diz não haver relatos recentes de outros ataques a mulheres na região.
O comandante do 9 º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Luciano Moritz Bueno, diz que o centro de Porto Alegre terá mais policiais em breve em função da Copa América. Além disso, também está previsto o aumento de soldados a partir da formação de agentes que estão em fase final de treinamento o último concurso.