Rodovias movimentadas às escuras, com motoristas tendo de se guiar exclusivamente pela iluminação dos faróis. Esse problema tem sido cada vez mais frequente em estradas como a BR-448, a Rodovia do Parque, que liga Porto Alegre a Sapucaia do Sul, passando por Canoas e Esteio e por onde circulam diariamente cerca de 60 mil carros. A causa, invariavelmente, de acordo com a polícia, tem sido o furto de cabos de energia.
Neste ano, foram registrados quatro casos em que trechos da BR-448 ficaram sem iluminação devido ao furto de cabos, o que representa a média de uma ocorrência por mês. Além do prejuízo, a ação dos ladrões põe em risco a vida de motoristas e passageiros.
— A falta de luz prejudica a visibilidade, pois deixa a pista muito escura à noite e também é uma ameaça à segurança de quem, porventura, tenha de parar, como para a troca de um pneu — explica o chefe do setor de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Cássio Garcez.
Na tentativa de coibir a ação dos criminosos, a RGE, concessionária de energia elétrica que atende os três municípios da Região Metropolitana pelos quais a estrada passa - Canoas, Esteio e Sapucaia do Sul -, adotou como primeira medida a colocação de ferros para impedir que os postes de luz sejam escalados. "As estruturas metálicas presentes nos postes da BR-448 são tentativa da RGE de inibir o furto de cabos e tem dado resultado", diz nota da empresa.
A concessionária da rodovia, CCR Via Sul, prevê a revitalização da BR-448 entre julho e dezembro, com a substituição de todo o sistema elétrico ao longo da estrada e a instalação das lâmpadas por LED. Por nota, explicou que a expectativa é de que com o monitoramento por câmeras, que será interligado com a polícia, as ações dos criminosos sejam inibidas.
O cobre é uma matéria-prima que rende dinheiro para viciados comprarem droga. Então, eles se arriscam furtando fios. O número de ocorrências costuma variar conforme o aumento ou a redução da drogadição na região.
RAFAEL PEREIRA
Titular da 1ª DP de Canoas
Na repressão ao furto de cabos, um obstáculo enfrentado pela Polícia Civil, segundo o delegado Rafael Pereira, é a facilidade com que os autores retornam às ruas.
– A pena para o crime de furto é pequena (de um a quatro anos de prisão). Para a obtenção da prisão preventiva, o furto tem de ser qualificado e o caso ainda deve atender a outros requisitos, como garantia da ordem pública. Mesmo em crimes com condenação, dificilmente o autor vai para o regime fechado. Em consequência, retomando logo a liberdade e dependente do uso de drogas, a tendência é a reincidência, como uma bola de neve – diz Pereira.
Um exemplo da situação citada pelo delegado é o caso de um homem de 27 anos que, somente no ano passado, foi preso cinco vezes pela PRF furtando fios em rodovias da Região Metropolitana. O quinto flagrante foi em postes da BR-448, na altura do bairro Rio Branco, em Canoas.
Titular da Delegacia Especializada no Combate a Crimes Contra Concessionárias, o delegado Luciano Peringer aponta também como dificuldade a identificação da origem do material furtado.
— O cabeamento não tem como ser identificado, então, o comprador dos cabos de cobre não sabe se é furtado ou roubado. Como solução, as empresas têm optado por substituir os cabos de cobre por uma liga de alumínio, material cinco vezes mais barato.