Passava das 23h de sábado (13) quando dois jovens decidiram sair para reencontrar os amigos em um bar em Nova Hartz, no Vale do Sinos. Felipe Rolim Stein, 21 anos, e Juliezer dos Santos Pereira, 20 anos, cresceram juntos. Naquele dia, iriam conhecer o estabelecimento de uma amiga, inaugurado há oito dias.
Quando adultos, seguiram caminhos diferentes. Stein queria ser dentista. Faltava pouco para concluir o curso de Odontologia na Universidade de Caxias do Sul (UCS) — a formatura estava marcada para abril de 2020. Pereira queria ser advogado. Há três semanas, tinha voltado de Santa Catarina, onde havia ficado três meses para fazer a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Na madrugada de domingo (14), os sonhos dos dois foram interrompidos após um homem atirar contra eles em frente a um bar. Stein estava sentado e não conseguiu esboçar reação para tentar fugir. Já Pereira foi baleado nas costas. Outros três jovens escaparam correndo. Um táxi chegou a ser atingido pelos tiros.
Imagens de câmera de segurança obtidas pela polícia mostram o momento dos disparos (veja abaixo). Inicialmente, o autor dos tiros passou pelos jovens e chegou a cumprimentá-los. Depois, o homem comprou cerveja e se aproximou do grupo. Ele exigiu que os jovens levantassem as mãos e, em seguida, começou a atirar.
Dois amigos das vítimas correram para a casa de Pereira. Foram avisar a mãe dele que o jovem havia sido baleado.
— Saí de casa de pés descalços. Quando eu cheguei na esquina e vi meu filho caído na rua, não acreditei. Foi a cena mais triste da minha vida — conta a mãe de Pereira, Ivete Antunes, 46 anos.
A mãe do jovem contou que ele havia sofrido um acidente de trânsito, em 2017. No ano passado, foi alvo de criminosos duas vezes. Em um dos casos, ladrões saíam da Caixa Econômica Federal depois de cometer um assalto quando o carro em que Pereira estava foi atingido por um tiro de fuzil. Em outro, estava saindo de um bar quando dois homens tentaram assaltá-lo com faca.
Antes de sair de casa ele deu um beijo e um abraço em cada um de nós. Disse que voltava logo.
ROSALINO COSTA STEIN
Pai de uma das vítimas
— Ele era muito amoroso como filho, muito querido — conta Ivete, que tem também uma filha, de 22 anos.
Horas antes do crime, Stein estava com a família. O jantar naquele dia foi hambúrguer feito em casa. O jovem ajudava o irmão caçula, de 10 anos, a preparar suco de laranja.
— Antes de sair de casa ele deu um beijo e um abraço em cada um de nós. Disse que voltava logo — conta o pai, Rosalino Costa Stein, em lágrimas.
Devido aos estudos, o jovem passava a semana em Farroupilha, na Serra, onde morava com uma tia há dois anos e meio. Vinha para a casa aos finais de semana e se dividia entre os amigos e a família.
No sepultamento, no começo da tarde desta segunda-feira (15), no Cemitério Municipal de Nova Hartz, chamava a atenção a grande presença de estudantes de Odontologia da UCS, colegas de faculdade da vítima.
— Era sempre animado. Estava sempre fazendo churrasquinho com os amigos — conta o tio dele, Sadi Costa Stein, 60 anos.
— A especialidade dele era conquistar amizades. Onde ia, tinha amigos. Nunca teve uma inimizade. Era um filho maravilhoso, querido, compreensivo — complementa o pai.
As duas vítimas não tinham passagens pela polícia.
Homem foi detido com cartuchos de arma
Suspeito pelo duplo homicídio, Tulio Rosa dos Santos, 30 anos, tem um registro em sua ficha criminal. Conforme o delegado Fernando Branco, responsável pela investigação, o homem foi preso em setembro do ano passado por porte ilegal de arma de fogo em Palmeiras das Missões, no noroeste do Estado. Na época, foram localizados com ele dois carregadores de uma pistola 380 — totalizando 28 cartuchos.
Segundo o delegado, o calibre da arma coincide com a utilizada no duplo homicídio. O homem tinha obtido a arma regularmente, mas não renovou o registro, que estava vencido.
Para a polícia, Santos atuou sozinho, como indicam as imagens de câmeras e relatos de testemunhas que estavam no local. Branco deve concluir o inquérito até o final da semana e indiciar o homem por homicídio doloso qualificado — por motivo fútil e por meio que dificultou a defesa das vítimas.
Levado à delegacia, o homem não quis prestar depoimento. Até as 14h desta segunda-feira (15), ele não tinha constituído advogado.