O julgamento de mais três acusados de espancar e esfaquear judeus há quase 14 anos no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, foi retomado nesta sexta-feira (22), às 9h, com o interrogatório de um dos três réus. Daniel Vieira Sperk afirmou que apenas foi punk e negou que fazia parte de um grupo de skinheads que atacou três judeus. A juíza da 2ª Vara do Júri do Foro Central, Cristiane Zardo, acredita que o júri possa se estender até a madrugada de sábado (23).
Sperk disse em plenário que tinha a cabeça raspada porque fazia parte do movimento punk na época do crime, dia 8 de maio de 2005, quando o mundo lembrava do fim do holocausto na 2ª Guerra Mundial. Além de negar fazer parte do grupo de skinheads — que pregava o ódio a homossexuais, negros e judeus —, ainda afirmou que já foi agredido por grupo semelhante e que sempre foi confundido apenas porque tinha a cabeça raspada.
— Sou totalmente inocente. Eu sempre lutei contra o nazismo. Há 14 anos as pessoas me chamam de nazista. Eu nunca fui violento. Eu nunca tive passagem na polícia. Me tiraram para bode expiatório — afirmou Sperk olhando para os jurados.
O réu disse que conhecia o outro acusado, mas que apenas teriam ido juntos a um show musical. A acusação contestou Sperk sobre não fazer parte do grupo que agrediu as vítimas e pediu para que ele mostrasse tatuagens de uma caveira punk e de um palhaço. Já a defesa pediu que ele falasse sobre sua história e sobre sua família.
Julgamento
Na quinta-feira (21), foram ouvidos um dos réus, Marcelo Moraes Cecílio, duas vítimas e sete testemunhas, três de acusação e três de defesa. Nesta sexta-feira, além de Sperk, que depôs até às 10h45min, começou a ser ouvido o réu Leandro Comaru Jachetti, pouco antes das 11h, que também nega envolvimento no crime. Após isso, haver duas horas e meia para a acusação, dividida entre Ministério Público e assistência de acusação, e mais duas horas e meia para as defesas dos três acusados. Também haverá duas horas de réplica e mais duas horas de tréplica para depois ter a votação dos jurados e a leitura da sentença. A juíza Cristiane Zardo não descarta que o júri se estenda pela madrugada de sábado.
— Minha intenção é levar o júri inteiro hoje (sexta-feira), mesmo que entre a madrugada de sábado, e essa também é a intenção dos jurados, mas pode ser que termine até pouco antes da meia-noite — ressaltou Cristiane.
Os réus são julgados por tentativa de homicídio. O trio não foi a júri em novembro de 2018 porque o conselho de sentença foi dissolvido após tumulto envolvendo uma testemunha. Já em setembro do ano passado, outros três réus foram condenados a mais de 12 anos de prisão, dois deles recorrem em liberdade. Ao todo, são 14 réus em processos e julgamentos que foram divididos devido ao grande número de acusados. O júri de outros três deve ser marcado em breve.