Para desavisados, o desenho gigante de um bebê armado com chapelão mexicano na traseira de um caminhão poderia ser só mais um grafite. Mas para quem conhecia Ezequiel Schneider, 41 anos, a figura revelava a paixão do motorista pela banda gaúcha Tequila Baby. O desenho da criança é, na verdade, representação do mascote da banda, que já estampou uma fita K-7 do álbum Fiesta, Sombrero y Rock'n Roll.
O desaparecimento do caminheiro há mais de 10 dias chegou aos ouvidos dos músicos que integram o grupo. Na terça-feira (15), o vocalista da banda, Duda Calvin, fez um apelo para quem tivesse informação sobre o paradeiro do fã. O veículo dele foi localizado em um posto de combustíveis em Saudades, em Santa Catarina. Oito dias depois, na quarta-feira (16), corpo de Schneider foi encontrado às margens de uma rodovia, em Ampére, no Oeste do Paraná.
— Ele era muito fã da banda — conta a sobrinha do caminhoneiro, Carolina Ely Schneider .
Segundo o delegado Arthur Lopes, havia marcas de facadas no abdômen da vítima. Agora, a polícia espera o resultado da necropsia para apontar as causas da morte.
Uma das linhas de investigação é que tenha acontecido um latrocínio (roubo com morte), já que as rodas de alumínio foram levadas e trocadas por outras. Segundo o delegado, havia sangue no caminhão, o que indica que ele teria sido morto no Paraná e, em seguida, deixado às margens da rodovia. Depois, o caminhão foi abandonado em Santa Catarina.
O último contato com a família foi feito às 19h de 5 de janeiro quando o caminhoneiro parou em um posto de combustível em Pranchita, a 42 quilômetros de Ampére. O motorista tinha parado para jantar e fazer ligações.
— Estava bem, faceiro. Sempre quando fazia uma comida diferente, falava com a gente — relata a sobrinha.
Casado, morava com a mulher em Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, mas devido à profissão passava dias fora de casa. Eles não tinham filhos. O casal mantinha contato diariamente por WhatsApp. De vez em quando, por falta de sinal, ela ficava algumas horas sem resposta. Acostumada, não estranhava.
Schneider atuava como caminhoneiro há quase 20 anos, seguindo o exemplo do avô. Segundo a família, o motorista nunca tinha sido assaltado. Era cuidadoso e não aceitava carregar cargas de alto valor.
Caminhoneiro levava carga de cereais
Schneider levava uma carga de cereais de Itumbiara, em Goias, até Chapecó, no Oeste de Santa Catarina. O carregamento não foi roubado. Segundo a família, ele deixou o Centro-Oeste na manhã de 4 de janeiro.
Na última sexta-feira (11), um homem foi preso temporariamente em Chapecó, em Santa Catarina, e é considerado suspeito por envolvimento no crime. Com a prisão, a polícia tem 30 dias para concluir o inquérito.