Após cerca de 13 horas, foi encerrado às 23h desta quinta-feira (22) o primeiro dia do júri dos três homens acusados de espancar e esfaquear judeus no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, em 2005. Conforme o Tribunal de Justiça (TJ-RS), a sessão deve ser retomada na manhã de sexta-feira (23) para depoimento de dois dos réus, exposições da promotoria e advogados e, depois, definição da pena dos acusados.
Israel Andriotti da Silva, Daniel Vieira Sperk e Marcelo Moraes Cecílio respondem por tentativa de homicídio com qualificadoras. O trio é acusado de tentar matar Rodrigo Fontella Matheus e agredir outros dois homens.
Na noite desta quinta-feira, apenas Cecílio foi ouvido na sessão. Ele negou participação no crime, relatando que estava no banheiro de um bar quando começou a confusão. A juíza Cristiane Busatto afirmou que depoimentos de testemunhas contrariam o posicionamento de Cecílio. O réu seguiu negando:
— Não agredi ninguém.
A sessão do Tribunal do Júri foi aberta com o relato de uma das vítimas do crime, que pediu para falar sem a presença do público e dos réus. Durante o depoimento, a promotora Lúcia Helena Callegari mostrou materiais apreendidos com os acusados, como livros de Hitler e bandeiras com suásticas. A vítima também foi questionada pelos advogados de defesa dos réus.
Após intervalo para almoço, a sessão foi retomada com o depoimento de outra vítima, Rodrigo Fontella Matheus. Ele mostrou aos jurados as marcas das facadas que sofreu e cicatrizes das cirurgias que foi submetido.
— Não posso fazer atividades físicas. Apenas andar de bicicleta ou ioga. E na rua tenho uma tensão permanente. Não consigo mais andar tranquilamente — relatou Rodrigo.
Durante a tarde, uma discussão acalorada entre os promotores e advogados fez com que a juíza determinasse um intervalo de 30 minutos. A sessão foi retomada às 16h com a continuação dos depoimentos de testemunhas de defesa.
Das 10 testemunhas que foram indicadas pelos réus, apenas seis compareceram à sessão. A última a falar foi a ex-mulher de Israel, que declarou não conhecer o conteúdo nazista encontrado na casa em que moravam.
Processo
No dia 19 de setembro deste ano, outros três homens foram condenados por tentativa de homicídio triplamente qualificado – por motivo torpe (discriminação racial), meio cruel e recurso que dificultou a defesa das vítimas. As penas somam 38 anos e oito meses de prisão para cada um.
Foram condenados Laureano Vieira Toscani, Fábio Roberto Sturm e Thiago Araújo da Silva. Os dois últimos puderam recorrer em liberdade.
O processo inicial sofreu uma cisão. Alguns crimes que estavam na denúncia do Ministério Público foram retirados e cinco réus, dois homens e três mulheres, não foram pronunciados para o Tribunal do Júri. Um deles deixou de responder por todos os delitos apontados nos processos e os outros quatro passaram a responder por delitos menos graves, que não vão a júri.
Ainda resta marcar o julgamento de mais três réus: Valmir Dias da Silva Machado Júnior, Leandro Maurício Patino Braun e Leandro Comaru Jachetti. O TJ informou que o grande número de réus e o fato de que uma parte havia recorrido inicialmente dos crimes apontados pela acusação levou a 2ª Vara do Júri a dividir o processo e o julgamento em partes.