O advogado Anderson Figueira da Roza, réu por suspeita de envolvimento com uma facção criminosa da zona leste de Porto Alegre, foi preso nesta segunda-feira (15) em sua casa no bairro Petrópolis, em Porto Alegre. Conforme o delegado do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Arthur Teixeira Raldi, Roza foi detido por participação em organização criminosa e coação de testemunhas.
— Ele não teve reação no momento que foi preso, estava bastante tranquilo — detalha o delegado.
Roza é réu ao lado de outros dois advogados — Anderson da Cruz também foi detido e Anderson Rembowski é procurado. A facção criminosa, entre outros planos, pretendia assassinar um juiz na Capital.
O mandado de prisão preventiva foi expedido pela Justiça ontem após a Promotoria de Lavagem de Dinheiro recorrer da negativa anterior. A 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça entendeu que os advogados excederam-se "nos seus deveres e integraram a organização, protagonizando uma atuação criminosa".
Na tarde desta segunda-feira, os policiais estiveram nos possíveis endereços nos quais os réus poderiam ser encontrados. Somente Roza foi localizado. Acompanhado de um advogado, Cruz se apresentou logo depois. Segundo o delegado, os dois negaram envolvimento com o grupo.
A decisão negativa para o pedido do Ministério Público, em primeira instância, é de 28 de setembro. Na ocasião, a juíza, que não tem o nome divulgado porque está em sigilo determinado por ela, entendeu que o momento processual não era oportuno para a decretação da prisão dos advogados. A magistrada citou que os fatos investigados teriam acontecido em 2016 e 2017 para justificar a negativa.
No entanto, para o TJ, Roza é o líder do núcleo jurídico e atende aos comandantes da facção, sendo imputado a ele "o cometimento de delitos de embaraços e processos criminais juntamente com José Dalvani Nunes Rodrigues". Este, mais conhecido como Minhoca, é líder de uma das mais violentas facções da Capital. Na decisão de ontem, é citado que "a imposição de providências cautelares diversas da segregação não demonstram a força necessária" e, por isso, a prisão preventiva foi decretada.
Roza seria responsável por informar Minhoca sobre testemunhas em processos do seu interesse. As pessoas seriam procuradas por membros da facção que, a partir disso, "impedia-as de comparecerem em juízo para serem ouvidas".
Alvo do grupo
Um dos alvos da facção seria o juiz Felipe Keunecke de Oliveira, que conduz mais de 60 processos de homicídios envolvendo integrantes da organização criminosa. Na semana passada, ZH publicou uma reportagem na qual o magistrado conta como tem vivido desde que começou a receber ameaças de morte:
— É um regime semiaberto: vou trabalhar de dia e me recolho à noite.
Roza teria repassado à facção criminosa informações pessoais e da rotina do juiz. Em uma conversa com Minhoca via Whatsapp, o líder do grupo pergunta se o advogado costuma ver o magistrado, a quem chamam de Gremista, em um clube da Capital. Ele diz que sim, que viu Oliveira com o filho no local. Por fim, é o próprio Roza quem sugere: "Jogo do Grêmio. Ele vai".
Roza e Cruz, assim como Rembowski, foram suspensos pelo Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS). Como são formados em Direito, por lei, os dois réus devem ficar em uma cela do Estado Maior — na Capital, encontra-se no 1º Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar.