O depoimento de Evandro Ferreira, 42 anos, autor confesso do assassinato da cunhada Elaine Silva da Silva, 52 anos, em Cachoeirinha, forneceu detalhes à Polícia Civil, que concluirá o inquérito na sexta-feira (28). O caso, que se iniciou com o registro de desaparecimento dos dois, resultou na prisão do instrutor de dança. O homem contou como teriam acontecido o assassinato e a fuga até Cruz Alta, onde acabou detido.
— Confesso, fiz mesmo, matei ela — foram as primeiras palavras aos três policiais, no presídio da Região Noroeste.
Aos agentes, o homem contou que mantinha caso amoroso com a cunhada. Na manhã da terça-feira, 11 de setembro, os dois estariam na sala de casa, no primeiro andar, quando teria começado a discussão.
— Ele contou que queria ir embora. Ia se separar e ir para o Interior morar com a família. Ela não teria aceitado — relata o delegado.
Segundo o depoimento de Ferreira, Elaine teria dito que contaria tudo à família. O instrutor de dança afirmou que durante a discussão segurou a mulher pelo pescoço e apertou contra o sofá da sala. Ele alegou que não havia ninguém no andar inferior e, por isso, familiares não ouviram a discussão.
— Diz que ela nem gritou, não deu tempo. Depois do estrangulamento, ficou apavorado. Colocou o corpo no porta-malas e saiu. É o que ele conta — diz Baldasso.
A polícia obteve imagens de câmeras que mostram o carro na garagem de casa com o porta-malas aberto e logo após Evandro deixando a residência. Casado há 18 anos, o homem morava com a mulher, irmã de Elaine, e a filha no andar inferior da casa. Já a vítima residia com os pais e outra irmã no andar superior.
Alguns pontos, como esses ferimentos, precisam ser esclarecidos. Nos intriga uma pessoa sem antecedente cometer tamanha brutalidade.
LEONEL BALDASSO
Delegado de Polícia
Depois disso, Evandro teria ingressado na Avenida Dorival Cândido Luz de Oliveira, que leva até Gravataí. O homem contou que neste trajeto avistou um motel, onde decidiu entrar para "esfriar a cabeça". Disse que no local retirou o corpo do veículo e o levou até o quarto.
— É algo que nos intriga, tirar o cadáver do carro. Ele diz que lavou o corpo e depois o colocou novamente no porta-malas — explica o delegado.
Após 58 minutos no motel, Evandro pagou a conta com cartão e seguiu de carro até a localidade de Morungava, em Gravataí. Lá teria decidido deixar o corpo no matagal. Contou que colocou as roupas embaixo do cadáver e cobriu com capim seco. O homem afirmou que seguiu pelos matagais, onde teria dormido duas noites.
Pela mata, teria chego até Taquara, onde procurou hotel e se hospedou por volta das 9h de quinta-feira, 13 de setembro. No mesmo dia, a polícia localizou o corpo de Elaine. Evandro não explicou por que deixou o veículo próximo ao cadáver.
— Talvez para não ser localizado. Só disse que decidiu seguir caminhando — cogita o delegado.
Depois de sair do hotel, às 13h, Evandro teria ido até a rodoviária e embarcado em um ônibus até Cruz Alta. O instrutor disse que estava sem rumo e que escolheu o destino aleatoriamente. Ao chegar ao município, teria comprado uma faca, com a qual foi preso.
Na cidade, às 5h de sexta-feira, dia 14, hospedou-se com nome falso em hotel e permaneceu lá até a chegada dos policiais civis na manhã seguinte. Preso em flagrante por falsidade ideológica e resistência à prisão, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça por suspeita de envolvimento na morte da cunhada.
Polícia não confirma relacionamento
Apesar de Evandro ter relatado o caso com a cunhada, Baldasso diz que não há provas da relação.
— É a afirmação dele. Diz que era um segredo dos dois. Sabemos que ele levava a vítima para o serviço e que estava se separando. Ela não tinha redes sociais e nem aparelho celular. Não tinha envolvimento amoroso, que se saiba, com ninguém. As pessoas que ouvimos não desconfiavam de nada. Não conseguimos provar que havia ou que não havia esse relacionamento — afirma o delegado.
A polícia aguarda a quebra do sigilo bancário da vítima e o resultado de perícias, que indicarão se ela manteve relações sexuais e se os vestígios encontrados dentro da casa eram de sangue. A causa da morte também será confirmada. O legista antecipou à polícia que Elaine sofreu asfixia, mas ela também tinha lesões nas costelas, além de hemorragia interna.
— Alguns pontos, como esses ferimentos, precisam ser esclarecidos. Nos intriga uma pessoa sem antecedente cometer tamanha brutalidade. Os crimes violentos, em geral, têm histórico, mas não é o caso — diz Baldasso.
CONTRAPONTO
Responsável pela defesa de Ferreira, a advogada Tatiana Assis Machado Bersagui se manifestou dizendo que, embora ele tenha confessado o crime, "está muito arrependido e diz que agiu de forma inopina".
Em nota, afirma que Evandro "não tem antecedentes criminais, não é uma pessoa violenta, nunca agiu contra seus próprios familiares e/ou terceiros, não sendo aquele típico agressor da Lei Maria da Penha que pratica condutas reiteradas de ameaças, agressões físicas, entre outras".