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O atraso de Elaine Silva daSilva, 52 anos, para chegar ao trabalho na terça-feira preocupou colegas. Em 22 anos como única responsável pela área administrativa de uma revenda de veículos, em Cachoeirinha, não acumulava faltas e era pontual. Na sexta-feira, um dia após a mulher ser encontrada morta no interior de Gravataí, a empresa fechou as portas em luto. Num caso ainda envolto em incertezas, a Polícia Civil pediu a prisão do cunhado, Evandro Ferreira, 42, desaparecido e suspeito do crime.
Os dois residiam em uma casa de dois andares na Rua Carlos Leopoldo Schuller, no Parque da Matriz, em Cachoeirinha. Elaine, solteira e sem filhos, morava no piso superior com os pais idosos e uma irmã. No andar inferior, viviam Evandro, a irmã de Elaine, com quem era casado há 18 anos, e a filha adolescente. Discreta, ao entardecer, a família era vista pelas vizinhas na sacada.
— A família ficava ali tomando chimarrão — conta uma vizinha.
A notícia do desaparecimento dos cunhados se espalhou pelos grupos de WhatsApp do bairro e deixou moradores assustados e intrigados. Ao recorrer às câmeras que mantém em frente à casa, um vizinho descobriu imagens do momento em que Evandro saiu de casa em um Siena vermelho. O veículo deixa o pátio da residência. Elaine não é vista embarcando na calçada, como costume. Ferreira, instrutor de danças, dava carona à cunhada até o trabalho. Era nesse horário que outra vizinha passava por Elaine. No dia do desaparecimento, a mulher não lembra de ter avistado ela.
— Via ela todos os dias. Está todo mundo apavorado — diz.
Intriga o delegado Leonel Baldasso, da 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha, não ser possível ver a mulher na carona do Siena. Uma das hipóteses do policial é de que pudesse estar no porta-malas, viva ou morta.
— Suspeito que o crime possa ter ocorrido dentro da casa — afirma.
Além do pedido de prisão, o delegado solicitou a quebra de sigilo telefônico de Evandro. O aparelho está desligado desde o desaparecimento dos dois. Reservada, Elaine não tinha redes sociais nem celular. A rotina se dividia entre o trabalho, onde cuidava da área financeira, e a família. Colega de Elaine por 15 anos, Joel da Silva Soares, 54, diz que o comportamento da amiga parecia normal.
— Tinha uma vida tranquila, pacata. Da casa para o trabalho, do trabalho para casa. Nunca deu sinais de que pudesse estar sofrendo algum tipo de violência. Era uma pessoa de bem. Pegou todos de surpresa. É algo muito triste – lamenta.
O corpo de Elaine foi sepultado na manhã de sexta-feira, em Cachoeirinha.
Homem foi visto no interior de Gravataí
Para o delegado Leonel Baldasso, da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Cachoeirinha, há indícios suficientes da participação de Evandro Ferreira no crime. Por isso, decidiu solicitar a prisão. Uma das pistas é o relato de testemunhas que viram o homem caminhando próximo do matagal onde Elaine foi encontrada morta.
O cunhado da vítima teria passado pelo local na terça-feira à noite, horas após o sumiço. O dono de um mercado disse que o homem esteve no estabelecimento e comprou algo para comer.
O carro de Evandro foi encontrado no mesmo local em que o cadáver da vítima foi localizado. O veículo passou por perícia em busca de vestígios. O corpo estava escondido sob capim seco e tinha ferimento na cabeça, além de costelas quebradas. A causa da morte será apontada pela necropsia.
Pouco após sair de casa, Evandro esteve em um motel, por cerca de uma hora. Segundo o delegado, imagens do estabelecimento mostram o momento em que ele chega ao local. Uma funcionária contou que estava sozinho e nervoso. A camareira disse aos agentes que o quarto foi encontrado desarrumado.
– Acreditamos que ele possa ter ido ganhar tempo, pensar no que fazer. Mas precisamos achá-lo para saber o que houve – diz Baldasso.
O pedido de prisão preventiva aguardava análise da Justiça até a noite de sexta-feira.
O caso
Os dois desapareceram na terça-feira (11). Eles saíram da residência da família, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, e não foram mais localizados. Evandro disse que levaria Elaine para o trabalho, em uma revenda de Cachoeirinha onde ela trabalhava há cerca de 20 anos. A empresa fica a cerca de dois quilômetros da moradia. Depois, o homem seguiria para um curso profissionalizante em Gravataí.
O trajeto era feito diariamente pelos dois, mas a vítima não chegou ao destino. A família chegou a obter imagens de câmeras que registraram o momento em que o veículo de Evandro saiu do pátio da residência, mas a mulher não aparece nas imagens.
Na última quinta-feira, o corpo de Elaine foi encontrado em um matagal no bairro Morungava, em Gravataí, após informações obtidas pela polícia sobre o paradeiro dos dois desaparecidos. O carro de Evandro tinha o porta-malas aberto, e o corpo da mulher estava próximo, com marca de pancada na cabeça e coberto por capim, além de seminu. Perto, estava a bolsa dela, com documentos e dinheiro.