As autoridades policiais não veem como coincidência o fato de assassinatos em Caxias do Sul ter aumentado após o vazamento de uma suposta transferência de líderes de uma facção para um presídio federal no Rio Grande do Norte. Apesar de essa possibilidade seguir em análise no Poder Judiciário, traficantes de drogas teriam aproveitado esse momento de instabilidade para tentar expandir seus domínios. O duplo homicídio registrado da noite de quinta-feira, por exemplo, ocorreu no bairro Planalto, apontado como base da facção indiciada pela Polícia Civil no ano passado.
Informações colhidas por brigadianos no local do crime — e ainda não confirmadas pela Polícia Civil — apontam que os três alvos estariam fazendo uma telentrega de drogas. Os atiradores chegaram ao local em um veículo Ecosport e dispararam. Kelvin Antunes Maciel, 24 anos, e Álvaro Seefeld Pereira, 23, morreram no local. Um rapaz de 18 anos também foi baleado. Até o fechamento desta edição, ele recebia atendimento no Hospital Pompéia e seu quadro de saúde era estável.
— Este último caso parece diferente. Os outros dois (ataques deste mês com mais de um baleados) foram execuções, em que vários criminosos chegaram atirando, matando o alvo e acertando quem mais estivesse presente. É um indicativo de tráfico de drogas e possivelmente ação de facções — aponta o delegado de Homicídios, Rodrigo Kegler Duarte, que ressalta que é cedo para falar em qualquer vinculação sobre os assassinatos em julho.
A suspeita é que os assassinos tenham utilizado pistolas calibre 9mm no ataque do Planalto — o que deve ser confirmado pela perícia nas próximas semanas.
— É um calibre que tem rotineiramente sido encontrado em casos de morte em Caxias do Sul. O que era exceção está virando regra — confirma o delegado Duarte.
Com este duplo homicídio, julho já é o mês mais violento do ano com 14 mortes, ultrapassando janeiro, com 13 casos. No total, 2018 contabiliza 68 assassinatos. No mesmo período de 2017, eram 65. O ano passado terminou com 127 mortes por violência.
Perfil das vítimas
Como é comum em casos que envolvem o tráfico, o duplo homicídio no bairro Planalto envolve grande violência — são estimados mais de 15 tiros — e alvos não tão conhecidos. Maciel possuía indiciamento por tráfico de entorpecentes, mas estava em liberdade provisória desde setembro de 2016. Pereira tinha antecedente policial por dano ao patrimônio. Já o sobrevivente do ataque possui passagem por tráfico, mas como adolescente infrator.