A clínica de tratamento para dependentes de drogas e de álcool Associação Terapêutica Ferrabraz, alvo de operação em Sapiranga, no Vale do Sinos, nesta segunda-feira (30), registrava sessões de tortura e cárcere privado, segundo o delegado responsável pelo caso, Rafael Sauthier. De acordo com as investigações, um interno que tentou fugir foi arrancado da sua casa, espancado e perdeu o movimento de uma mão. Na operação, 12 pessoas foram presas, acusadas de sequestro, cárcere privado, tortura e formação de milícia.
O delegado relata que, durante a operação, encontrou pacientes sem consentimento, nem ordem judicial. Alguns denunciaram sessões de tortura com uso de choque.
— Encontramos instrumentos para atar as pessoas, instrumentos para torturar, dar choque. Uma série de situações. É uma sociedade terapêutica totalmente irregular — completa.
Pelo menos dois pacientes necessitaram de atendimento médico devido às lesões. Um terceiro, que recém havia sido agredido, foi escondido às pressas dos policiais.
— Tinha um interno com as costelas quebradas. Eles contaram que outro foi retirado às pressas, pois apresentava diversas lesões, olho roxo e haviam quebrado um dente dele — descreveu Sauthier.
Os policiais procuraram esse paciente em uma oficina mantida pela clínica. No entanto, os funcionários informaram que ele havia fugido. Para o delegado, é evidente que ocorriam sessões de tortura dentro da clínica.
Pacientes que tentavam deixar a clínica precisavam pagar uma multa estipulada pelos coordenadores. Se não pagassem, eram mantidas em cárcere.
— Eles tinham uma espécie de grupo de resgate, formado por internos e monitores. Eles foram até a casa dos pais de um rapaz (que havia fugido), arrombaram a porta, invadiram e surraram o rapaz. Ele ficou totalmente lesionado, perdeu o movimento de uma mão — relatou o policial.
O coordenador terapêutico da clínica, Darlon Carvalho Rodrigues, e a atual presidente da associação, Nelci Carvalho Rodrigues — mãe de Darlon —, estão entre os detidos. Os demais presos, que integrariam o grupo de resgate, não tiveram o nome divulgado.
Na mesma ação, o Ministério Público (MP) pediu a interdição e o encerramento total das atividades da Associação Terapêutica Ferrabraz. De acordo com a promotoria, a clínica tinha péssimas condições de higiene e medicamentos vencidos e sem receita. Além disso, faltava atendimento médico e psicológico no estabelecimento.
Os cerca de 50 internos da clínica foram encaminhados para outros dois abrigos devidamente cadastrados na prefeitura. Eles são acompanhados por assistentes sociais, que irão analisar cada caso individualmente.
GaúchaZH ainda não conseguiu contato com representantes da clínica ou dos presos.