As fotografias e declarações de uma família nas redes sociais contrastam com a crueldade de um crime, confessado na sexta-feira (29) por um casal de adolescentes de Pinheiro Machado, na região sul do Estado. A menina, de 12 anos, contou à polícia ter matado a mãe com um adolescente, de 16, com quem mantinha relacionamento. A mulher, de 37 anos, teria sido morta com golpes de martelo na cabeça. O corpo foi encontrado em cova rasa, nos fundos da residência. Três dias depois, moradores do município, de 13 mil habitantes, ainda tentam compreender o que levou ao trágico desfecho.
— A família era tudo para ela. Criou os filhos com muito amor e carinho. Vi muitas vezes ela correndo com aquela bebezinha no colo, sempre preocupada. Está todo mundo em choque. Não entende o porquê. Como uma criança pode se envolver em algo assim? — diz uma familiar, que conviveu com a doméstica desde a infância.
A vítima morava com as duas filhas, de 12 e seis anos, e com o marido na residência onde ocorreu o crime no fim da tarde de quinta-feira (28). O pai das crianças estaria no interior do município, onde trabalha, e só retornaria no fim da semana. Na sexta-feira, segundo a Polícia Civil, o adolescente teria relatado o crime a um familiar, que acabou informando a Brigada Militar. O corpo foi então localizado pelos PMs nos fundos da casa da vítima. O martelo, que teria sido usado no crime, estava enterrado no mesmo local.
O casal contou em depoimento à polícia que o crime teria sido cometido durante briga no dia anterior. O adolescente disse que a mulher teria lhe atacado com um facão e que ele e a namorada acabaram usando o martelo para golpear a vítima na cabeça. A mãe não aceitava o relacionamento. A filha caçula teria presenciado o assassinato.
— Ela não aceitava porque achava que não era certo. Sempre foi bem rígida com isso, com essa parte de namorado. O marido dela está em choque, arrasado, como todo mundo. Há três noites que não durmo, pensando no sofrimento que ela passou. Era uma pessoa trabalhadora, que lutava pela família, uma mãe carinhosa. A morte dela não tem explicação. Procuro achar as palavras, mas não encontro — lamenta a familiar.
Na escola onde estudava o casal e a filha caçula da vítima o clima também era de consternação nesta segunda-feira (2). Os professores, que conviviam com a menina desde o início da idade escolar, tentam buscar formas de auxiliar os alunos a compreender o que ocorreu, com o mínimo de traumas.
— O que posso dizer é que a escola está em choque. Está tentando lidar com esse acontecimento. A gente não ouve falar nisso nem em cidades grandes. Imagina aqui, onde todo mundo se conhece. A mãe era sempre presente. A menina cresceu dentro da escola. Nunca foi agressiva. Ninguém consegue acreditar nisso tudo — relatou uma das professoras.
Adolescentes seguem internados
Ainda na sexta-feira (29), o delegado Luis Eduardo Benites, responsável pela investigação, ouviu os dois adolescentes, que confessaram o crime. Eles contaram que a morte teria ocorrido durante discussão, mas vestígios encontrados pela perícia no quarto da vítima indicam que o crime pode ter sido premeditado. A mãe poderia estar deitada quando foi golpeada.
— Havia vestígios de sangue no travesseiro, o que indica que o crime pode ter ocorrido no quarto — afirmou o delegado.
Temos um crime e um corpo. Temos materialidade, prova e autores.
LUIS EDUARDO BENITES
Delegado da Polícia Civil
Recentemente, o caso já tinha gerado outra ocorrência na polícia. Segundo Benites, o Conselho Tutelar registrou ocorrência de suspeita de estupro de vulnerável — já que manter relações com menor de 14 anos, ainda que com consentimento da vítima, é proibido por lei. O delegado não soube precisar a data do registro, mas informou que o procedimento foi encaminhado ao Judiciário. O Conselho Tutelar confirmou que vinha acompanhando o caso, embora não forneça detalhes.
A polícia ainda não ouviu a menina, de seis anos, até o momento porque não tem sala especial para o depoimento. O delegado afirmou ainda que outras pessoas serão ouvidas até a conclusão da apuração, mas acredita que há provas da autoria.
— Temos um crime e um corpo. Temos materialidade, prova e autores.
O adolescente foi encaminhado para Pelotas e a menina para unidade feminina da Fundação de Atendimento Sócio Educativa (Fase), em Porto Alegre, já que não há local para internação de meninas na região. A polícia tem 10 dias para concluir o procedimento de apuração do ato infracional. Eles devem responder por homicídio e ocultação de cadáver.