Entre as mulheres agredidas em Porto Alegre 48% são vítimas de seus companheiros ou de pessoas com quem mantiveram relacionamento, segundo a Pesquisa de Vitimização, do Instituto Cidade Segura. Entre os agressores, 25% são ex-companheiros, 16% maridos e 8% ex-namorados.
O levantamento mostra ainda que 71,5% das vítimas de assédio no trabalho são do sexo feminino.
Dos entrevistados, 36,5% concordaram com a afirmação de que há situações em que mulheres "se comportam como se pedissem para ser estupradas". Os resultados foram apresentados em um debate sobre violência e gênero, promovido pela Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, na manhã desta quarta-feira (7).
A pesquisa mostra que quando as vítimas são homens a realidade é diferente. Apenas 3% relataram agressões por parte de ex-companheiras. A maior parte das agressões contra os homens, 80% delas, tem como autores desconhecidos ou "conhecidos de vista". Não houve um único relato entre os entrevistados de agressão praticada por companheira ou ex-namorada.
— Quando as mulheres tentam romper um relacionamento abusivo há inconformidade. Tem a ver com a questão de gênero, da posse da mulher, de não querer que ela tenha outros relacionamentos — afirma a advogada e integrante do Instituto Cidade Segura Cristina Villanova.
Entre as mulheres, 35% relataram ter sido importunadas com comentários de intenção sexual no transporte coletivo. Desses casos, 79% ocorreram em ônibus. Também integrante do Instituto Cidade Segura, a socióloga Daiana Hermann acredita que a educação, com campanhas e programas de conscientização que envolvam homens e mulheres, além da responsabilização dos culpados, são estratégias fundamentais para o combate à violência de gênero.
— Essas situações estão tão internalizadas, como comuns, que essas mulheres muitas vezes não percebem o assédio como violência que deve ser denunciada, como um crime.
Para Cristina, o fato de parte dos entrevistados concordarem que há situações em que mulheres que se comportam "como se pedissem para ser estupradas" está relacionado a uma cultura machista.
— Há percepção de que se mulher está usando uma saia mais curta, uma roupa mais ousada, ela está pedindo para sofrer um tipo de violência. A roupa dela não tem absolutamente nada a ver com o ímpeto do agressor — diz a advogada.
Por outro lado, também provocou surpresa para os integrantes do instituto que 43% entrevistados concordam que o aborto não deveria ser considerado crime até o final do terceiro mês de gestação.
— Quando se começa a não tratar como um tabu, para que se possa efetivamente falar sobre isso, apresentar questões científicas. Isso faz com que as pessoas comecem a mudar seu pensamento — analisa Cristina.
Carga psicológica
A pesquisa também abordou o sofrimento psicológico gerado pela sensação de insegurança. Dos entrevistados, 40% das mulheres afirmaram já terem sentido pânico por imaginarem que um familiar poderia ter sido vítima de um crime. Esse índice entre os homens ficou em 25%. Também 40% das mulheres relataram sentir ansiedade por conta da insegurança, enquanto nos homens o índice foi de 27%. Das entrevistadas, 81% relataram ter medo de sair à noite e 77% relataram evitar sair com dinheiro ou objetos de valor.
— As mulheres carregam muito mais essa carga mental. Metade dos homens não experimentaram nenhuma daquelas situações de risco e de pânico. É um peso muito mal dividido na sociedade essa preocupação das mulheres consigo mesmo e com os familiares — afirma Daiana.
A pesquisa
A pesquisa contratada pelo Instituto Cidade Segura foi realizada pelo Instituto de Opinião Pública (IPO). Foram entrevistadas mil pessoas, 536 mulheres e 464 homens acima de 16 anos, o que representa a 0,07% da população total da cidade. A coleta das informações ocorreu de 17 a 28 de outubro de 2017. As entrevistas ocorreram em oito regiões da cidade. A margem de erro da amostra é de 3% e seu grau de confiança é de 95%.