Um vídeo que flagra um policial militar agredindo uma travesti durante uma abordagem, em Porto Alegre, foi entregue ao secretário da Segurança Pública do Estado, Cezar Schirmer. A denúncia foi feita pelo vereador Roberto Robaina (PSOL), que também encaminhou o material à Defensoria Pública. A agressão aconteceu na Rua Ramiro Barcelos, no trecho entre a avenida Farrapos e a rua Voluntários da Pátria, no bairro Floresta. O caso é investigado pela Corregedoria-Geral da Brigada Militar.
As imagens mostram o momento em que uma travesti é agredida com um tapa no rosto e na cabeça. No vídeo, é possível perceber que uma policial se aproxima enquanto ocorrem as agressões. Mais três pessoas também estão junto a uma grade durante a abordagem, mas não são agredidas. O caso teria acontecido na manhã do dia 30 de setembro, por volta das 11h30min. O autor do vídeo repassou as imagens para a equipe do vereador, mas não quis ser identificado.
— Uma ação ilegal e violenta dessas é inadmissível. Vamos seguir acompanhando o caso. Estamos em um país em que ocorre um assassinato de LGBT a cada 25 minutos. E as travestis são as maiores vítimas. Se isso ajudar a punir os responsáveis e dar o exemplo para que mais gente tenha coragem de denunciar estaremos satisfeitos — afirmou o Robaina.
O vereador se reuniu com o governador José Ivo Sartori, na semana passada, e mostrou as imagens ao chefe do Executivo. Depois disso, uma reunião foi agendada com Schirmer para esta quarta-feira (18). A assessoria do secretário informou que após ver as imagens ele determinou ao comando da Brigada Militar a abertura de procedimento investigativo para apurar o caso.
Segundo o comandante do policiamento na Capital, coronel Jefferson Jacques, o policial militar que aparece no vídeo já foi identificado e deverá ser ouvido nos próximos dias, assim como a vítima e testemunhas. O comandante preferiu não se manifestar sobre a situação antes do fim da investigação.
— Vamos ouvir todos, verificar as circunstâncias e depois expedir um resultado. Não seria adequado emitir qualquer juízo de valor por enquanto.
A presidente da ONG Igualdade RS, Marcelly Malta, afirmou que a associação, que atua na defesa dos direitos humanos de travestis e transexuais, acompanha a denúncia. Ela aguarda que a travesti procure a entidade, que conta com assessoria jurídica.
— É importante que ela nos procure para que a gente possa dar seguimento a essa denúncia. Muitas vezes elas têm medo de denunciar, por receio de represálias, mas é importante que façam.
Marcelly, que já atuou em palestras de orientação para policiais sobre a forma de abordagem a travestis e transexuais, disse ainda que ficou chocada ao tomar conhecimento das imagens.
— Houve uma época em que me perguntavam se a gente queria ser abordada com flores. Não, não queremos. Queremos ser abordadas como qualquer outra pessoa. Essa imagem desse tapa não sai da minha cabeça. Jamais eu pensei que isso poderia acontecer durante o dia — lamentou.