Relatos de agressões por parte de policiais militares, que reforçavam a segurança na 33ª Oktoberfest, em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, estão sendo apurados pela Brigada Militar (BM). Três registros de lesão corporal chegaram à Polícia Civil. O episódio envolveu visitantes, que afirmam ter sido espancados no momento em que eram retirados de um ginásio no último fim de semana, e a equipe do Batalhão de Operações Especiais (BOE) de Porto Alegre. A festa encerrou no último domingo (15).
Segundo o tenente-coronel Valmir José dos Reis, comandante regional da BM no Vale do Rio Pardo, foi aberto um inquérito policial militar para apurar o caso. Os envolvidos, conforme o comandante, já começaram a ser ouvidos.
— Tem que ser apurada a circunstância em que se deu. Neste momento o comando se reserva a dizer que manteremos a tradição desse encaminhamento que a gente sempre fez. Quando há uma situação há ser verificada, ela vai ser verificada.
Um dos visitantes que relatou ter sido agredido foi o empresário e professor universitário Daniel Hoppe, 31 anos. As agressões, segundo ele, aconteceram na madrugada de sábado (14). O professor contou que às 5h25min estava em um dos ginásios do parque, o Poliesportivo, quando encerrou o show. Com o fim da música, os policiais teriam formado um cordão humano para que as pessoas saíssem do local.
— Até aí tudo bem, seguiam o protocolo — descreveu.
Nesse momento, segundo Hoppe, ele e o amigo decidiram ir ao banheiro, no caminho da saída, antes de deixar o ginásio. O banheiro estaria totalmente vazio. No momento em que o amigo estava em uma cabine, conforme o professor, um dos policiais entrou no local e "em tom exaltado" teria dito para Hoppe sair.
— Fechando o zíper alertei "só um pouquinho, meu amigo está na cabine". Mal terminei a frase e tomei um empurrão para fora e algumas pancadas de cassetete nas costas e na nuca. Levantei os braços em sinal de paz, mas não adiantou. Meu amigo já havia saído da cabine e estava atrás de nós, testemunhando toda a cena.
Do lado de fora, segundo o professor, cerca de 15 policiais permaneciam em um cordão humano parado junto ao corredor do banheiro.
— Muitos deles viram eu sendo agredido e isso motivou-lhes a seguir com a ação. E ali ocorreu um corredor polonês, como se eu merecesse ser castigado por chibatas, por estar no banheiro atrasando a vida deles alguns segundos. Tomei diversas cassetadas pelo caminho, na nuca e nas costas, até ser jogado para fora do ginásio — relatou.
Hoppe disse que saiu do local com as roupas rasgadas, tentou registrar o caso na Brigada Militar, mas só conseguiu fazer isso no dia seguinte na Polícia Civil. Com ferimentos nas costas e na nuca, ele precisou de atendimento hospitalar.
— Eu tenho problema na coluna, seis protusões que tratei com muita fisioterapia. Tomei uma cassetada em cima delas. O meu caso tomou proporção porque fui o primeiro a relatar e porque as pessoas me conhecem, sabem que tenho uma índole séria. Mas tem outros casos que vão ser todos investigados.
Realizadora do evento, a Associação das Entidades Empresariais (Assemp) de Santa Cruz do Sul se manifestou por meio de nota em que afirma que o caso é investigado pela Brigada Militar. A entidade relatou ainda que "lamenta o ocorrido e reforça o seu compromisso de primar pela segurança e bem-estar dos seus visitantes". Na nota, a Assemp diz que aguarda a conclusão do processo investigativo interno da Brigada Militar para que os fatos sejam esclarecidos.
Queda de escada
O empresário Eduardo Theisen também relatou ter passado por uma situação semelhante na mesma madrugada. Ele disse que estava em um dos camarotes da festa, quando a música foi encerrada e os policiais começaram a retirar os visitantes de dentro do local.
— Eles tentaram tirar 4 mil pessoas em três minutos do ginásio — contou.
Nesse momento, segundo Theisen, os amigos que estavam no camarote teriam sido empurrados para fora e acabaram rolando pela escada.
— Quando vi, um de meus amigos estava rolando os degraus abaixo por ter sido empurrado pelos policias. Não acreditei no que estava vendo. Cinco segundos depois começaram a me empurrar também para mim cair escada abaixo — relatou.
Nesse momento, conforme Theisen, ele ainda teria sido agredido com chutes nas pernas e rasteiras dos policiais para que caísse.
— É um absurdo o que aconteceu com muita gente. Por isso eu acabei me manifestando — disse o empresário, que registrou o caso na Polícia Civil.
Outro visitante relatou que foi agredido enquanto aguardava a mulher sair do banheiro. Ela também teria sido retirada do local com uso de spray de pimenta.
A investigação
Segundo a delegada Raquel Schneider, responsável pela Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Santa Cruz do Sul, três casos de supostas agressões de visitantes foram registrados na Polícia Civil. Os três teriam acontecido nas madrugadas de sábado (14) e domingo (15). Em uma das ocorrências, no entanto, há três vítimas.
Todas as agressões teriam acontecido dentro do ginásio Poliesportivo. Os registros, conforme a delegada, foram remetidos para a Brigada Militar por se tratar de lesão corporal praticada por militar em serviço. Imagens de câmeras de segurança devem auxiliar na investigação. A conclusão deve acontecer em cerca de 60 dias.
Sobre possíveis mudanças no policiamento da festa, o comandante regional da BM afirmou que os casos foram pontuais.
— Isso não é um fato comum, foi um acontecimento pontual. A feira é um sucesso há 33 anos. Nós não podemos permitir que baixíssimos indicadores de criminalidade durante a feira sejam manchados por casos pontuais dos quais será apurada a responsabilidade — disse o tenente-coronel Reis.