Um ano e sete meses depois, a polícia encerrou o inquérito do crime que, acreditam os investigadores do Departamento de Homicídios de Porto Alegre (DHPP), deu início aos capítulos mais brutais – com esquartejamentos e decapitações – da guerra entre facções criminosas rivais a partir de 2016. Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, apontado como líder de um dos grupos criminosos e atualmente detido na penitenciária federal de Catanduvas, foi indiciado e teve a prisão preventiva decretada como mandante da morte de Jeferson de Oliveira Lapuente, 22 anos, descoberta no começo da manhã de 17 de janeiro de 2016. Com este caso, Nego Jackson já soma mais de dez mandados de prisão preventiva por homicídios.
Um adolescente, atualmente com 17 anos, foi apontado como um dos executores do crime. Ele já está internado na Fase pela autoria de outro caso de esquartejamento e decapitação, que vitimou Sérgio Eraldo Guimarães, 21 anos, em agosto de 2016. Os investigadores da 5ª DHPP acreditam que pelo menos outros quatro homens tenham participado do assassinato de Lapuente, mas eles não foram identificados até o final do inquérito policial.
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O corpo do jovem foi encontrado sem a cabeça e com diversas marcas de facadas, enrolado em um cobertor e jogado na Avenida Protásio Alves, no bairro Mario Quintana, na zona norte de Porto Alegre, com um recado escrito no lençol: "Bala nos Bala". Horas depois, a cabeça foi achada em uma caixa de papelão no bairro Bom Jesus. A polícia confirmou que Jeferson Lapuente atuava no tráfico de drogas, ligado a uma facção criminosa que controla parte dos dois bairros onde o corpo dele foi deixado.
– Foi uma demonstração de poder dentro da guerra. A partir deste crime, o nível de violência deste confronto assumiu uma proporção muito maior. Foi o estopim para diversos casos de decapitação em sequência – diz a delegada Luciana Smith.
Desde então, somente na zona norte de Porto Alegre, foram registrados 11 casos de esquartejamento. Destes, a polícia já chegou à resolução de oito.
Sequência de mortes
Conforme o chefe de investigação da 5ª DHPP, Leonardo Silva, a morte de Lapuente foi um crime de vingança quase imediata. E teve, segundo a polícia, uma mulher de 25 anos, atualmente em liberdade provisória, como pivô.
Tudo teria iniciado no dia 11 de janeiro, quando Matheus Júlio Vargas, 19 anos, foi executado na Vila Jardim com diversos tiros na cabeça. Ele era familiar da mulher que viria a ser pivô do primeiro esquartejamento da guerra. Ameaçada de morte, ela teria fugido do bairro e buscado refúgio justamente no bairro Mario Quintana, com traficantes rivais.
– Ela saiu da Vila Jardim prometendo vingança nas redes sociais – aponta o investigador.
Cinco dias depois, na manhã de 16 de janeiro de 2016, um grupo armado invadiu diversas casas da Avenida dos Prazeres, na Vila Jardim, anunciando-se como policiais. Executaram Sanderson Mano, 41 anos, e os sobrinhos dele, Robson Mano dos Santos e Ismael Mano, ambos de 16 anos.
– Testemunhas viram a mulher e o Jeferson Lapuente entre os executores. Não relataram à polícia, mas aos integrantes da facção que atua na Vila Jardim. Horas depois, aconteceu o revide – explica Leonardo Silva.
A suspeita é de que a mulher tivesse apontado as casas dos rivais aos matadores. Ela foi indiciada pela chacina na Vila Jardim e chegou a ser presa em fevereiro de 2016. Foi libertada provisoriamente em junho deste ano.
No final da noite de 16 de janeiro de 2016, Jeferson Lapuente foi raptado na Rua 6 de Novembro, no bairro Mario Quintana, e levado para o local onde, segundo a perícia, foi torturado, esfaqueado e decapitado enquanto ainda estava vivo. Tudo foi filmado e fotografado. Os criminosos ainda teriam enviado mensagens ao celular da mulher de 25 anos, afirmando que não matariam o rapaz se ela se entregasse e informasse onde encontrariam José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca – líder da facção rival –, eles poupariam Lapuente. As mensagens não foram respondidas.