Passados mais de 30 dias do misterioso desaparecimento da jovem Nicolle Brito Castilho da Silva, 20 anos, em Cachoeirinha, seu pai, o gerente de projetos Sidnei Castilho da Silva, 48, recebeu, nesta segunda-feira (3), a reportagem para falar sobre sua filha. Na rua em que fica a casa, que se assemelha a um condomínio fechado, repleto de moradias resguardadas por muros, grades e cercas elétricas, o homem de semblante preocupado revela que saiu da Capital, onde viveu por quatro anos, na tentativa de se refugiar da violência.
– Cheguei em Cachoeirinha em janeiro, pensando que aqui seria muito mais tranquilo, mas agora estou diante dessa situação – conta.
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Na casa de paredes brancas e sem decoração, só o som dos cachorros Duque e Malia é ouvido. Silva ainda mostrou o quarto no qual ficava a filha. Confira a entrevista a ZH:
Como está sua rotina?
Mudou bastante, não estou indo trabalhar todos os dias. Vou dia sim, dia não. Ficava o todo tempo no trabalho. Hoje passo duas, três horas. Só vou a coisas importantes.
E onde busca informação?
Vou à polícia, troco mensagens com o inspetor, procuro saber o que está acontecendo, se há informação nova, respondo mensagens. Procuro ficar em casa. Fico na esperança de que pode ser que vai parar um carro, um Uber, e a Nicolle vai simplesmente chegar. É isso o que venho tentando fazer.
Ela já passou tanto tempo assim sem dar notícia?
Não. Já passou na época de Carnaval, fim de ano, chegou a passar uma semana, 10 dias fora, mas em alguma viagem, foi para SC, RJ. A gente trocava mensagens, não todos os dias, mas nos falávamos e eu sabia onde ela estava.
Ela costumava dizer aonde ia?
Não. Falava: "Ó, estou saindo. Vou numa amiga", coisa desse tipo. Hoje em dia, é meio difícil os filhos, ainda mais na idade dela, bem independente, darem muita satisfação para a gente. Os amigos sabem muito mais do que os próprios pais hoje em dia. É triste dizer isso, mas é verdade. Agora que aconteceu isso de ela desaparecer, um mês já, as pessoas perguntam para mim as coisas e aí que fui ver que não sabia quase nada, porque não tenho informações.
O que o senhor não sabia, por exemplo?
Os amigos sabem mais. Me perguntam se ela tinha namorado. Nunca vi. Nunca falou comigo sobre isso. Era meio reservada, preferia se abrir com alguma amiga. A gente acha que está fazendo bem, mas na verdade não está fazendo. A gente erra nesse ponto, talvez deveria ser mais persistente.
Como é sua relação com a Nicolle?
A Nicolle não era muito diferente de outras adolescentes. Apesar de ter 20 anos, parecia que tinha 16, 17 anos. E não era nada diferente das pessoas dessa idade. O tempo todo no celular, no Facebook, então a conversa mesmo em si não era duradoura. A gente começava a conversar um pouco, a perguntar, e ela já dizia: "depois conversamos".
Ela ficava muito no quarto?
A maior parte do tempo. Mesmo quando estava na sala, com TV ligada, era com celular na mão.
O senhor percebeu alguma mudança no comportamento?
Não tinha nada de diferente, mas sei que ela estava triste pela morte da amiga dela. Perguntei o que tinha acontecido, ela não quis falar. Isso foi uma das últimas conversas que a gente teve.
O senhor conhecia essa amiga?
Não. Vi foto, me deu uma lembrança, mas as amigas dela que chegavam aqui eram tudo meio parecidas. Chegavam e ficavam no quarto. Não tinha contato.
O senhor se inteirou, depois, da história dela?
Sim. Fui saber uma semana depois. Já estava buscando ajuda para procurar a Nicolle e fiquei sabendo o que tinha acontecido com a amiga dela. Não tenho Facebook, mas as pessoas me mostraram a Nicole postando foto dela com essa menina, fazendo homenagem.
O senhor acredita que o desaparecimento dela possa ter alguma ligação com essa história?
Olha, sinceramente, não acredito. Nem sabia que ela tinha algum conhecido que morava aqui. Para mim, todas as amizades da Nicolle eram de Porto Alegre.
O que o senhor sabe das investigações?
Sei que eles estão trabalhando bastante, conseguiram quebra do sigilo telefônico, hoje (ontem) conseguiram quebra do sigilo do Facebook. O delegado me disse que foi visto tudo em aeroporto, junto com a Infraero. Dia 23, disseram que viram ela no Bar Opinião. Estão analisando as imagens.
O senhor acha que as informações vão poder ajudar nas investigações?
Creio que sim, porque a Nicolle não falava por ligação de telefone, pois o DDD era de São Paulo, então ela só conversava por mensagem. Ou Facebook e WhatsApp. Eles já conseguiram a quebra de sigilo para ver se tinha mensagens. Creio que ali vão estar as últimas mensagens. Com certeza, vai ter quem é a pessoa que veio buscar ela.
O senhor já tinha visto aquele carro do vídeo?
Não. A Nicolle nunca saiu a pé aqui de casa, sempre era ou Uber ou amigo ou amiga, a pé nunca. Então vários carros já pararam aí para pegar ela.
E como está o contato com a mãe dela, em Miami?
É um contato difícil, porque ela está longe e quer saber notícias, e eu, infelizmente, não tenho quase notícias. Todo dia, ela manda mensagens, mas não tenho novidade.
O senhor acha que ela deveria vir pra acompanhar?
Acho desnecessário. Falei isso para ela. Mas se ela quiser vir, é só pegar avião e vir. Pode ficar na minha casa. Acho desnecessário porque já ando meio desesperado, mas ainda estou tentando me manter forte para tentar fazer alguma coisa. No caso dela, se ela chegar aqui, vão ficar dois desesperados e a gente não vai poder ajudar, a gente vai atrapalhar.
E na hora de dormir?
É difícil. Se ficar parado pensando o que poderia ter feito diferente em vez de buscar lanche, se tivesse feito jantar, será que ela teria saído? Naquele dia, fui a pé, convidei ela para ir junto. Pediu para trazer o lanche preferido, de estrogonofe.
Em que momento o senhor percebeu que tinha algo errado?
Quando cheguei com o xis e ela não estava, não fiquei preocupado, já tinha acontecido outras vezes. Fiquei foi triste, chateado. Preocupado a gente sempre fica quando o filho sai de noite. Mas nunca ia imaginar que ia acontecer alguma coisa, que ela ia desaparecer.
O que o senhor acredita que tenha acontecido?
Não quero pensar no pior. Quero acreditar que ela teve uma coisa de adolescente, que foi viajar. Embora saiba que é difícil, porque os documentos estão todos aqui. Enquanto não vir, preciso ter esperança, mas já estou quase sem força.