Gravataí, com cerca de 270 mil habitantes, já registra 84 assassinatos neste ano, sete somente nos últimos três dias, das 7h de sexta-feira (23) até as 7h desta segunda-feira (26). Além disso, são 20 mortes a mais do que no mesmo período do ano passado, conforme dados da Editoria de Segurança dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho. Ocorrências deste tipo estão aumentando desde 2015 por dois motivos principais, segundo autoridades da área de segurança: a guerra do tráfico de drogas, que na cidade acirrou desde o ano retrasado, e a defasagem no efetivo policial. As informações são da Rádio Gaúcha.
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Em relação às mortes, em todo a ano passado foram 117 casos, diante dos 101 de 2015. Os números estão aumentando e coincidem com a prisão, no ano retrasado, de um dos traficantes mais perigosos da cidade. Apontado como líder de uma facção criminosa no município, Vinícius Otto, também foi investigado por ter um veículo blindado de forma artesanal, o chamado Caveirão, que foi apreendido pela polícia em 2015. Além disso, a polícia acredita que ele estava por trás de um plano para executar no ano passado uma juíza da região.
Após a prisão de Otto, houve uma verdadeira guerra por pontos de venda de drogas em Gravataí. A outra facção, que é rival do grupo dele, teve na sexta passada cinco integrantes presos, sendo um deles o responsável pelo tiro que matou o agente Rodrigo Wilsen da Silveira, 39 anos, durante uma operação policial.
– Todas as mortes ocorridas no fim de semana têm o indicativo de que foram motivadas pelo tráfico de drogas, claro, temos que apurar tudo. E ainda vamos verificar se todas ou algumas têm ligação específica com a disputa direta entre estas duas facções, a do Otto, que está preso e segue dando ordens da cadeia, e a facção da gorda, que era alvo nosso na última sexta – diz o delegado Rafael Sobreiro, que comandava a ação quando o policial Rodrigo foi morto e que responde interinamente pela Delegacia de Homicídios de Gravataí.
Efetivo policial defasado
As regiões com maior incidência de homicídios na cidade são Vila Rica, Vila União, Itatiaia, Barnabé e Morada do Vale, locais onde os moradores reclamam do policiamento precário.
– Às vezes, da parada 118 até a parada 53, área da 2ª Companhia do 17º Batalhão de Policia Militar, fica apenas uma viatura rodando. É muito pouco – diz o sargento Marco Cezar, presidente da Associação de Servidores da Brigada Militar (BM) da Morada do Vale.
Outro fator para o elevado número de mortes é justamente a falta de efetivo, defasado em mais de 50%. Segundo o tenente-coronel Vanderlei Padilha, comandante do policiamento na cidade, Gravataí tem cerca de 200 policiais militares. No entanto, mesmo se tivesse o dobro, o problema persistiria. Segundo ele, o número de prisões seria maior com um maior número de brigadianos e o resultado disso seria mais PMs fazendo custódia em delegacias e mais presos sendo soltos dos presídios para dar lugar a outros que fossem detidos, justamente por que não há vagas disponíveis no sistema prisional.
– O preso vai para a cadeia, depois acaba saindo tanto pela progressão de regime quanto para dar lugar a outro. Não tem vaga, e ao sair para a rua, ele vai voltar a praticar crimes. E nós vamos estar aí permanentemente enxugando gelo e correndo atrás dos mesmos criminosos. Vide o exemplo do homicida do policial civil aqui em Gravataí, que tem uma extensa ficha criminal – diz o tenente-coronel Padilha.
Além da falta de efetivo, outro problema desde 2015 é o número de PMs fora do patrulhamento para fazer custódia de presos em delegacias. Fato que ocorre devido à interdição parcial de presídios e à superlotação das carceragens das delegacias. Nesta segunda-feira havia quatro viaturas e cinco PMs aguardando durante toda a manhã pelo flagrante de nove presos, sendo que um deles estava baleado, na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Gravataí. Apesar deste problema, o comandante da BM em Gravataí destaca a guerra do tráfico como sendo o principal motivo por este aumento do número de mortes.
– O tráfico ainda é responsável aqui por mais da metade dos furtos e roubos. Ou é o dependente roubando para sustentar o vício ou é o traficante para capitalizar o próprio tráfico, principalmente para usar o dinheiro na compra de armas – ressalta Padilha.
Outro fator apontado pelas autoridades na área de segurança para o número de homicídios estar elevado é o desemprego, principalmente após a crise econômica. Muitas pessoas que haviam procurado o município nos últimos anos após a instalação de várias empresas na região acabaram migrando para o crime.