De folga neste sábado, passei bons momentos com meu filho, Bernardo, nove anos. Não moramos juntos e, por conta disso e pela minha rotina de vida, confesso que o vejo bem menos do que gostaria. Mas quando estou com ele, aproveito ao máximo. Tanto que fico complemente alheio aos noticiários, algo muito difícil de acontecer.
Retomando a rotina no plantão desse domingo, deparo com duas notícias tristes e estarrecedores, envolvendo dois meninos com a mesma idade de meu filho. Um viu o pai ser assassinado. O outro, foi a própria vítima.
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Lembro-me que aos oito anos, pela primeira vez, fiquei horrorizado ao entrar em um velório nas proximidades do colégio em que estudava. Naquele tempo, muitas famílias optavam por velar seus entes em casa. A convite de uma coleguinha e por pura curiosidade, entrei na moradia onde estava sendo realizada a cerimônia. Pela primeira vez, vi um corpo humano sem vida.
Por incrível que pareça, até ali, não havia parado para pensar que as pessoas morrem, partem, deixam familiares. De certa forma, foi um choque, pois me dei conta de que teria que passar por isso. Cedo ou tarde, todos passamos. Mas, até ali, e por um bom tempo depois, só pensava em mortes naturais, decorrentes de doenças. E imaginava que isso só aconteceria na velhice.
Pois a realidade vivida pelas crianças hoje, principalmente as moradoras de periferia, é bem diferente. Desde cedo, convivem com o pior tipo de morte, que são as violentas. Não raro, são obrigadas a interromper suas brincadeiras devido a tiroteios e deparam com corpos pelas esquinas quando vão à escola.
Em um dos casos de sábado, o filho de um juiz do trabalho, que há seis anos havia perdido a mãe em um acidente de trânsito, virou órfão assistindo ao pai ser vítima de um crime passional. No outro, um menino, no trajeto para um culto, foi encontrado por uma bala perdida que seria endereçada à guerra do tráfico. Em ambos, vimos a infância – por completo ou parcialmente – ser assassinada.