Não é de hoje que o registro do jogo do bicho deixou de ser feito pelos apontadores em bloquinhos de papel. A tecnologia impera, com sistemas de transmissão, armazenamento de dados e acompanhamento em tempo real do ingresso de apostas, montante em caixa e pagamento de prêmios.
Um dos desbravadores da tecnologia no jogo do bicho seria Mario Kucera, de Bagé, um dos investigados na operação Deu Zebra, da Polícia Civil, que desarticulou duas das principais quadrilhas de contraventores da região da Campanha. Do seu escritório, ele consegue saber a movimentação de cada um dos seus apontadores. Por mais remoto que seja o ponto de jogatina, MK consegue fiscalizar as máquinas individualmente. Nada escapa.
Segundo as investigações, cada funcionário da banca tem um aparelho de Transferência Eletrônica de Fundos (TEF). Isso nada mais é do que uma máquina de cartão de crédito, onde é conectado um chip de telefonia celular. MK teria trazido para a sua organização um especialista em tecnologia da informação que adultera os equipamentos ao remover o sistema operacional original e instalar um programa desenvolvido para o jogo do bicho.
A investigação apontou que MK investiu R$ 215 mil na compra de mais de 500 máquinas vindas de São Paulo.
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Cada vez que um jogo é registrado, a transmissão virtual das informações é feita por um serviço chamado M2M (Machine to Machine, ou Máquina para Máquina). É uma forma de comunicação entre aparelhos em rede que funciona a partir do sistema de telefonia celular. Uma prestadora de serviços de Taquara foi contratada pela organização de MK para prestar o serviço de M2M. Depois dessa etapa, há outro núcleo tecnológico de apoio. Todos os dados transmitidos são enviados para uma empresa de servidores de Porto Alegre. Lá, as informações ficam arquivadas para consulta a qualquer tempo.
Combinados, os expedientes de transmissão e armazenamento asseguram que MK tenha controle virtual e instantâneo sobre tudo o que acontece no seu negócio.
As duas empresas de tecnologia não são investigadas, mas a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em ambas para recolher informações relativas aos empreendimentos de MK.
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CONTRAPONTO
O que diz o advogado Décio Lahorgue, defensor de Mario Kucera:
Lahorgue declarou que o seu cliente é apenas empresário do jogo do bicho "há muitos anos". O advogado negou também que o seu cliente utilize lotéricas da Caixa Econômica Federal para lavar dinheiro da jogatina.
– Na verdade, ele (Kucera) tem banca de jogo do bicho. Mas aquele patrimônio, aquilo tudo que dizem é uma ficção. Tem coisas arroladas na investigação de quando o Mario Kucera era criança ou sequer era nascido. Essa investigação está cheia de falhas. Ele tem jogo do bicho e só, mais nada – afirmou Lahorgue.
O que diz a defesa de Marcos Dierka:
Zero Hora não encontrou, até o momento, a defesa de Marcos Dierka, preso por suspeita de chefiar a banca de São Gabriel. A Polícia Civil informou que Dierka ainda não constituiu advogado junto às autoridades.