A tia Chica, como todos chamavam Maria Francisca Porto Elias na Escola Municipal de Educação Infantil Mundo de Zacarias, no bairro Cohab C, em Gravataí, era do tipo de professora daqueles primeiros anos de ensino em que as crianças não desapegam. Colegas e amigos estão consternados na cidade. Ela foi vitimada por uma bala perdida neste sábado no bairro Morada do Vale II.
– Ela sempre foi muito carinhosa e atenciosa com as crianças. Sempre muito brincalhona. Era daquelas professoras que os pequenos mudam de turma mas sempre dão uma passadinha na sala dela para um abraço, um carinho. Nós ficamos muito arrasados com a informação dessa morte trágica, porque a Chica era um patrimônio da nossa escolinha – conta a colega Ana Andréia D'Ávila, 32 anos, também professora na escola.
Fazia 26 anos, desde a criação da creche, que a tia Chica trabalhava lá. A mãe dela, atualmente com 76 anos, também foi professora na mesma escolinha. E o objetivo de Maria Francisca, aos 46 anos, era aprimorar-se ainda mais. Ela estava no oitavo semestre do curso de Pedagogia. Planejava se formar neste ano.
– Ela sempre foi muito ativa, comprometida com as causas sociais – lembra o irmão, José Jair Porto Elias, 49 anos.
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Tamanho engajamento rendeu à Maria Francisca a candidatura a vereadora no último pleito, pelo PSB. O orgulho maior dela, no entanto, estava em casa, como lembra o irmão. Mãe de três filhas, de 16, 24 e 26 anos, ela vivia a expectativa da formatura da segunda filha em Direito nos próximos dias. E da gravidez da mais velha, que lhe daria o terceiro neto.
Na tarde de sábado, quando acabou sendo vitimada por uma bala perdida na RS-020, na altura do bairro Morada do Vale II, ela voltava da casa de um amigo com o marido e o genro. E eles até tentaram evitar o pior ao perceberem que acontecia uma perseguição policial.
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– Eu sempre dizia para ela, quando ver alguma movimentação da Brigada muito próxima, é sempre melhor sair da via e abrir passagem. É até uma forma de se proteger. E aí acontece isso. A minha irmã foi mais uma vítima do descaso com a nossa segurança pública – desabafa o irmão, que é policial militar aposentado.
O genro dirigia o carro e realmente saiu da rodovia. Quando olhou para trás, no entanto, já viu o vidro traseiro estilhaçado e a sogra ferida. Maria Francisca chegou a ser socorrida, mas não resistiu.