Em uma quarta-feira marcada por rebeliões em presídios do Rio Grande do Sul, houve confronto na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) pela manhã. Presos de duas galerias se amotinaram no pátio por volta das 9h30min, atirando pedras retiradas de bueiros contra a guarda, de acordo com informações da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe). Houve disparos de antimotim (tipo de munição não-letal) para cessar as investidas, ferindo quatro apenados – eles foram atendidos em sequência, de acordo com a Susepe.
O Corpo de Bombeiros de São Jerônimo deslocou um caminhão até o local, que não precisou ser utilizado. A Susepe confirma que não houve foco de incêndio.
Leia mais:
Incêndio no Presídio Estadual Getúlio Vargas deixa mortos
Secretário descarta relação de mortes em presídio com greve de servidores
Justiça considera ilegal a greve dos penitenciários
Na Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas e na Penitenciária Estadual de Charqueadas, não foram registradas ocorrências, segundo a Susepe e a 9ª Delegacia Penitenciária Regional. Mas o clima esquentou do lado de fora dos portões. Em função da suspensão das visitas, familiares de apenados atearam fogo em lixo, pneus e pedaços de madeira, formando pequenas barricadas pela manhã.
Cerca de 25 policiais da Brigada Militar reforçaram o policiamento no local. O major Fábio Almeida César, subcomandante do 28º Batalhão, afirma que dezenas de pessoas protestaram no local, impedindo veículos com alimentos e remédios de se aproximarem.
A mulher de um apenado, que preferiu não se identificar, queixou-se de ter perdido o dia por causa da suspensão das visitas – ela foi de van de Porto Alegre a Charqueadas, por volta das 4h30min, e estava angustiada sem saber quando seria a próxima visita.
De acordo com a Susepe, pelo menos até a tarde desta quarta-feira, as visitas de quinta-feira ainda não haviam sido suspensas. O Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado do Rio Grande do Sul (Amapergs) afirma que o cancelamento das visitas depende da avaliação dos servidores de cada estabelecimento penal – eles devem decidir se há segurança para abrir os portões a visitantes.
Um grupo de agentes penitenciários do complexo de Charqueadas se deslocou até a Assembleia Legislativa de Porto Alegre, para protestar contra o pacote do governo José Ivo Sartori. Eles se diziam "sem condições psicológicas para trabalhar". Uma agente, que não quis se identificar, reclamou da falta de pagamento do 13° salário, que deixou sua conta no vermelho.
– Tenho dois filhos, e imagina como vai ser minha ceia de Natal – disse a servidora.
Agentes se diziam contrários ao fim da escala de plantão 24 horas, proposta pelo projeto encaminhado pelo governador. Eles afirmam que, com mais mudanças de turno, precisará haver mais contagens dos presos e certificação das condições estruturais de cada uma das celas, e que isso geraria revolta dos apenados.