A morte do empresário Marcelo de Oliveira Dias, no movimentado estacionamento de um supermercado, às 18h30min de uma quinta-feira, foi mais uma demonstração de que "o crime não escolhe hora nem local". Tampouco vítimas.
E, mais uma vez, o descontrole do sistema penitenciário teve reflexos trágicos do lado de fora dos muros da prisões. E vitimou um inocente, fato que tem se tornado bastante comum.
A sociedade livre, de um modo geral, reluta em admitir que boa parte da criminalidade que afeta as grandes cidades tem relação direta com o sistema penitenciário.
Pelo senso comum, quanto mais lotados os presídios, quanto piores as condições do cárcere, melhor para os chamados "cidadãos de bem".
Essa forma de pensar, que atinge boa parte das pessoas e penetra até nos poderes constituídos, tem origem em uma política penitenciária há bastante tempo adotada no país, que visa apenas a segregação dos criminosos e a vingança da sociedade a causadores de danos.
Prisões que busquem a socialização daqueles que nunca foram socializados, a ressocialização dos que já tiveram uma vida sem crimes e acabaram delinquindo, que tenham entre as metas uma formação lícita para apenados, que aumente a sua escolaridade, enfim, que façam os presos progredirem positivamente, que deem chance aos que querem se recuperar, protegendo-os do poderio dos que não querem, são raras no território brasileiro.
O modelo mais tradicional e comum é o dos grandes presídios e penitenciárias, onde cada metro quadrado é disputado quase que a unha, em celas ou galerias impenetráveis para as leis vigentes do lado de fora e nas quais viceja o domínio das facções criminosas. Ou seja: com presos amontoados, na mais completa ociosidade, seguindo leis e códigos criados e estabelecidos no próprio cárcere.
Nessa realidade, os índices de reincidência são cada vez maiores, e por crimes mais graves do que o que provocou a condenação anterior. E nesse ambiente controlado pelo crime, que lança mão de tecnologia e modernidade, como celulares e redes sociais, tem sido frequente a encomenda de ações a serem praticadas nas ruas. O assustador roubo de carros, maior causa de latrocínios em Porto Alegre, é um exemplo.
Na quinta-feira passada, a intenção dos criminosos era de executar um traficante. Acabaram matando um empresário, diante de sua filha. E a ordem, conforme apurou a polícia, veio de dentro do presídio. A vítima poderia ter sido eu, poderia ter sido você.