O bairro Rubem Berta, na zona norte da Capital, viveu um final de semana sangrento. No intervalo de 26 horas, oito pessoas foram mortas a tiros em quatro ataques criminosos. Para a polícia, ao menos seis dessas mortes teriam sido fruto de uma série de ataques e contra-ataques de quadrilhas rivais que atuam entre o Parque dos Maias e a Vila Santa Rosa. O capítulo mais recente foi a morte de dois adolescentes, atingidos nas costas e na cabeça, na Estrada Martim Félix Berta, por volta das 19h desse domingo. A relação entre a dupla execução e as outras seis registradas na região ainda está sob investigação.
Pouco antes, às 17h, houve um triplo assassinato na Rua Luís Domingues Ramos, na Vila Santa Rosa. Três homens foram mortos a tiros em um bar enquanto assistiam a uma partida de futebol. Dois criminosos chegaram atirando. Marcio Penna Silveira morreu dentro do local, Elisael Cabral Gonçalves, na rua, e José Sebastião Gomes Alves, após ser socorrido, no Hospital Cristo Redentor. Eles não tiveram as idades confirmadas.
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A suspeita é de que o crime tenha sido mais uma vingança por outro ataque a um bar, este na Rua Carmelita Grippi, no Parque dos Maias, ocorrido pouco antes das 17h de sábado. No crime, Marcelo Costa Prestes, o DJ Gordo, 37 anos, e Eduardo Rosa Bittencourt, o Gordinho, 33 anos, foram mortos a tiros – eles não tinham antecedentes criminais. Um terceiro amigo que tomava cerveja com eles também ficou ferido. O atentado ocorreu a duas quadras de onde foi instalado um dos quatro ônibus das bases móveis comunitárias da Brigada Militar, mas que só fica no local de segunda a sexta, pelas manhãs e tardes. No final de semana, reportagem de ZH mostrou que, 25 dias após o lançamento do projeto, nenhuma das bases funciona conforme o prometido pelo governado.
A suspeita da 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o caso no bar da Rua Carmelita Grippi, é de que os mortos não eram os alvos dos criminosos. Pelo menos um deles teria sido confundido com um traficante que atua naquela área. Testemunhas relatam que mais de 30 tiros foram disparados por ao menos dois homens em um Ka branco.
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Mais de 20 pessoas estavam no bar quando os atiradores chegaram. Entre elas, um grupo de amigos tomava cerveja e combinava os detalhes de um churrasco que faria para aproveitar a folga da noite.
O primeiro disparo atingiu a cabeça de Prestes, o DJ Gordo. Ele ainda tentou correr, mas caiu metros adiante, junto ao meio-fio. Foi socorrido por amigos até o Hospital Cristo Redentor, mas horas depois acabou morrendo. O DJ era conhecido por todos no bairro pelas festas que promovia na região.
Eduardo Rosa Bittencourt, o Gordinho, 33 anos, que trabalhava como vendedor em uma distribuidora de alimentos, também foi alvejado e tentou fugir. Atravessou a rua, mas foi alcançado e executado.
– Quando começou aquele monte de tiros, corri para o banheiro e me tranquei lá até passar tudo. Saí e encontrei os caras daquele jeito – conta um frequentador, de 58 anos, que fumava próximo das vítimas, do lado de fora do bar.
Executado em casa na frente da família
Enquanto brigadianos atendiam a ocorrência no estabelecimento, surgiu o alerta de um tiroteio próximo ao Condomínio Guapuruvu, também no Parque dos Maias.
A suspeita é de que tenha sido o início da vingança de traficantes da facção Bala na Cara, que atuariam no bairro. Às 20h, Luan Fagundes, 20 anos, foi executado com diversos tiros no sofá de casa, na Rua Vicente de Paris, Vila Santa Rosa. Homens usando toucas ninja invadiram o local e o mataram diante de familiares. Conforme testemunhas, Luan teria participado do ataque ao bar.
O delegado Cassiano Cabral confirma a suspeita, mas destaca que tudo ainda está sob investigação.
A polícia apura que as rusgas teriam iniciado ainda antes do ataque de sábado, quando criminosos do Parque dos Maias teriam invadido pelo menos uma casa na Vila Santa Rosa, ameaçando moradores.Primeiro crime aconteceu a duas quadras do endereço de base móvel da BM, que não funciona nos finais de semana