Pela segunda vez em menos de um ano de trabalho, o taxista Gustavo Seara, de 38 anos, teve uma arma apontada para a sua cabeça. Por volta da 1h de quarta-feira, um passageiro sacou uma pistola, roubou os pertences e dinheiro de Gustavo e ainda o deixou preso no porta-malas do táxi por cerca duas horas.
Durante as horas em que ficou trancado no veículo, seu único foco foi manter a calma para não irritar o assaltante e chegar em casa vivo.
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Zero Hora conversou com o taxista por telefone. Confira os principais trechos:
Onde você estava quando se deparou com o suposto passageiro?
Era depois da meia-noite, eu havia buscado minha mulher e minha filha, de 2 anos, que estavam no hospital porque ela está doente. Tinha deixado elas em casa e estava indo para o Centro, em busca de clientes, quando vi uma pessoa parada em um ponto de táxi na Avenida Teresópolis. O sujeito, que era loiro e alto, ainda fez sinal com as mãos de "por favor" para eu parar o veículo.
E quando parou, ele já anunciou o assalto?
Não, ele sentou, me deu um endereço, e começou a falar que tinha brigado com o pai. Ele disse que tinha batido no pai e estava indo para a casa da namorada. Eu ainda disse para ele que isso não se faz, que a família é a coisa mais importante. Depois ele ficou quieto, só me dando as direções para chegar no endereço.
E quando chegaram lá?
Assim que chegamos em frente ao local, ele de repente puxou uma pistola e falou: "Perdeu". Eu disse: "Sim, perdi. Te dou tudo, só me deixa vivo que tenho uma família para sustentar". Aí ele disse para eu não fazer nenhuma gracinha, senão ia me matar. Eu dei todo o dinheiro que tinha, dei o telefone, e ele me pediu para entrar no porta-malas. Eu disse que tinha claustrofobia, e ele disse que era ou aquilo ou eu morria. Então me trancou lá, e deixou a chave do lado de fora.
Ele chegou a andar com o carro enquanto você estava preso no porta-malas?
Não, o carro ficou parado. Fiquei um tempão batendo, esperando alguém me ouvir.
E como se sentiu ali dentro? Teve alguma crise de claustrofobia?
Eu tentei ficar tranquilo, pois já estava suando muito, apesar do frio que estava na rua. Eu sabia que se me apavorasse, se me debatesse, ia ser pior para mim. Só pensava que alguém iria abrir o carro para mim, ficava pensando na minha mulher e filha. Até que, em um momento, duas pessoas que passavam pela rua me escutaram e abriram o porta-malas para mim.
Você já havia sido vítima de violência durante o trabalho?
Sim, eu trabalho como taxista há dez meses, sempre durante a madrugada. Já havia sido assaltado outra vez, por homens armados, na Restinga...
Você pensa em mudar de emprego depois desse segundo episódio?
Querer essa vida para mim eu não quero, mas preciso sustentar minha família. As coisas estão cada vez piores, mas o cara precisa de dinheiro para família, então não tem muito o que fazer. Eu tenho medo, mas tenho que trabalhar.
O que passou pela sua cabeça durante o assalto?
Eu sou um cara ciente da violência que está tomando conta da cidade. Meus amigos todos estão apavorados com isso. Quando ele puxou a pistola, eu já sabia bem o que estava acontecendo. Sinceramente, eu não sei muito o que pensar, pois sempre acho que as coisas que tem que acontecer, vão acontecer. Eu só pensava na minha mulher e na minha filha, queria ficar vivo por elas. Ainda bem que agora estou aqui.