Os esquemas de corrupção e desvio de dinheiro que sangram os cofres públicos guardam semelhanças com um crime que lesa o bolso de moradores de condomínios em todo o Brasil. Foi o que revelou neste domingo o Fantástico, da TV Globo, em reportagem do jornalista Giovani Grizotti, da RBS TV.
Em Porto Alegre, um síndico responde a processo por apropriação indébita por ter feito compras pessoais com dinheiro do condomínio. Também na Capital, a reportagem localizou o dono de uma empresa que já sofreu achaques de diversos síndicos. As comissões pagas em troca dos contratos chegam a 60%.
– A gente chama aqui de a máfia dos síndicos, isso está escancarado – afirma um empresário que vende sistemas de segurança.
Leia mais:
PF combate fraude no seguro-desemprego e INSS no Estado
Médica se afasta de posto após reportagem que flagrou não cumprimento da carga horária
Outro empreendedor, do ramo que administra portarias, diz que é comum pagamento de "mensalinho" a síndicos.
– Acontece em limpeza de caixa d'água, cortar grama, manutenção predial, pintura de prédio, higienização. Noventa por cento das vezes, a gente é achacado – conta.
Para comprovar os esquemas, o repórter se fez passar por síndico e gravou negociatas com fornecedores em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Na capital gaúcha, abordou um eletricista, que afirma pagar propina de 20% a síndicos. Zeladores ganhariam menos.
– Zelador, quando indica a gente, é mais ou menos 10% – afirma o eletricista.
O profissional diz ainda conseguir até os três orçamentos exigidos pela maioria dos condomínios antes de fechar os contratos.
– Aí teria que pegar dois "orçamento maior", né? – pergunta o repórter.
– É, um pouco maior, né? – responde o profissional.
Em Capão Novo, Litoral Norte, um síndico é suspeito de aplicar golpe em pelo menos oito condomínios. A administradora da qual era dono, a Kimar, fechou as portas em março, sem dar qualquer explicação. Só no condomínio no qual João Francisco Flores Candiota também era síndico, desapareceram R$ 140 mil destinados à reforma da fachada.
– É pior do que entrar na nossa casa e roubar. Porque esse rouba a nossa confiança – desabafa a funcionária pública e moradora do condomínio Marlene Aurélio.
Os condôminos procuraram a polícia para denunciar que a administradora de Candiota apresentava extratos falsos indicando valores que existiriam na conta bancária. Mas, ao verificar no banco, o documento original mostrava saldo zero.
– Quando vimos, não tínhamos dinheiro nenhum. Comprei uma casa e adquiri uma dívida com a qual não estava contando – afirma a aposentada Regiane Mader, referindo-se à taxa extra que terá de arcar no boleto do condomínio.
Outro caso exibido pela reportagem do Fantástico foi o de um condomínio no bairro Guarujá, na zona sul de Porto Alegre. Lá, o
ex-síndico Lenar Pereira teria realizado compras pessoais até em sex shop com o cartão de débito do condomínio. Ele foi indiciado pela polícia e denunciado pelo Ministério Público por apropriação indébita, crime que prevê pena de até quatro anos de prisão.
Outro lado
João Francisco Flores Candiota não respondeu à reportagem. Ele recebeu recados (lidos) via redes sociais para dar a sua versão sobre as denúncias, mas não retornou.
Lenar Pereira atendeu o primeiro telefonema da reportagem e ficou de retornar a ligação, mas não se manifestou até o fechamento da matéria.