Presa preventivamente depois de confessar o assassinato do marido, o sargento da Brigada Militar Carlos Antônio Rodrigues, 42 anos, a faxineira Elen Dóris Santos da Silva, 42, disse à polícia que era agredida pelo companheiro e que sofre de depressão. No entanto, nunca havia registrado ocorrência contra o policial militar (PM).
– Ela disse que o relacionamento era muito conturbado, que era rejeitada. Estava muito abalada e mostrou arrependimento, mesmo tendo dito que considerou cometer o crime outras vezes – afirma o delegado Marco Antonio de Souza, da Delegacia de Homicídios de Gravataí.
Souza não acredita que o assassinato, que ocorreu por volta das 4h de sábado, tenha sido premeditado. Para ele, um desentendimento na noite de sexta-feira teria motivado Elen a efetuar o disparo com a pistola .380 do marido enquanto ele dormia. Rodrigues morreu com um tiro na cabeça.
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Por enquanto, o delegado não cogita pedir exame de sanidade mental à faxineira, que está detida na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre. Souza argumenta que a mulher demonstrou consciência do que fez e articulação ao prestar depoimento. A investigação vai procurar em exames médicos e testemunhos de pessoas do convívio do casal evidências sobre o problema de depressão relatado por ela à polícia.
O delegado investiga o caso como crime passional, mas não descarta outras possibilidades e aguarda o resultado de perícias.
Ao analisar a cena do crime, Souza descartou a primeira hipótese, a de que Rodrigues teria se suicidado. De acordo com o delegado, essa foi a versão dada por Elen logo após a morte. No entanto, o fato de o disparo ter atingido a parte de trás da cabeça da vítima e uma segunda marca de tiro, na parede, levaram os investigadores a acreditar em homicídio.
– Fomos conduzindo o depoimento e ela acabou confessando. Disse que, nervosa, acabou atirando sem querer contra a parede depois de matá-lo – afirma Souza.
Rodrigues deixa três filhos: um casal de gêmeos de 9 anos, fruto da relação com Elen, e ainda um adolescente, de relacionamento anterior. Além disso, ajudava criar a filha de 15 anos que Elen teve em outro casamento.
Pessoas próximas divergem sobre relacionamento do casal
Para a mãe de Elen, Matilde Alves dos Santos, 64 anos, a tragédia foi o ápice de um drama vivido por sua filha.
– Há 13 anos ela estava morrendo aos poucos. Há 13 anos ela era agredida por ele, mas tinha vergonha e medo de denunciar. Seguidamente, ela aparecia com marcas roxas e dizia que tinha caído em casa – conta a aposentada.
Segundo a mãe, o casal havia se divorciado legalmente há alguns anos e chegou a morar separado, mas eles reataram e a situação teria se agravado. Ainda segundo ela, Elen sofre de depressão e fazia tratamento psiquiátrico.
O sargento Diornes Viliano Cardoso Junior, mestre da Banda da Brigada Militar, onde Rodrigues atuava como trompestista, disse que sabia dos problemas de relacionamento do colega com a mulher.
– Ele comentou algumas vezes que tinha problemas pessoais e que a esposa muitas vezes até avançava nele. Ele chegou a sair de casa, mas havia voltado pelos filhos – relata Viliano.
A banda tocou no enterro de Rodrigues, ocorrido neste domingo, em Gravataí.
– Tocamos com um grande nó na garganta. Ele era um colega muito querido por todos, estamos em choque – afirma o sargento. – Terça temos ensaio, e uma cadeira vai estar vazia.