Após uma breve solenidade na manhã desta segunda-feira, 222 novos policiais militares iniciaram o curso de formação da Brigada Militar. Destes, 178 são os melhores colocados no último concurso público, de 2014, e irão ocupar o lugar dos temporários que foram desligados em fevereiro porque os contratos venceram. Os demais são PMs que passaram em concursos anteriores, já estavam trabalhando na corporação em setores administrativos e conseguiram liminares na Justiça. O número de decisões judiciais acabou engrossando o antigo número, de 207 PMs, que a Brigada estava divulgando até a semana passada.
Segundo o comandante-geral da BM, coronel Alfeu Freitas Moreira, diante da falta de efetivo e do aumento da criminalidade, os novos policiais terão um "intensivo", com pelo menos mais dois períodos de aula por semana, incluindo quartas à tarde e sábados pela manhã, com objetivo de irem para o trabalho "de rua" o quanto antes. Para isso, serão intensificadas as disciplinas de técnica policial, como abordagem policial, uso de armas de fogo, documentação operacional, comunicação de rádio e decisão de tiro.
– Toda essa gurizada, no bom sentido, precisa aprender a usar arma de fogo e a decidir se atira ou não atira, porque o policial militar tem que tomar decisões em frações de segundo. Por isso, muita cautela em antecipar aulas, mas vamos buscar isso para ajudar o policiamento existente – afirmou o comandante.
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Com a aceleração das aulas, a BM pretende que os alunos iniciem a prática de policiamento, com a supervisão de PMs experientes, dentro de três meses e a formação se dê até o fim de dezembro, totalizando sete meses. O tempo comum de preparação é de nove meses.
As 34 mulheres e 148 homens da nova turma de alunos na Academia de Polícia Militar (APM), em Porto Alegre, após a formação, devem atuar na Região Metropolitana, Vale do Sinos e talvez na Serra, seguindo critérios de maior índice de criminalidade. As cidades, especificamente, não serão divulgadas por "questões estratégicas" da BM.
Impacto pequeno na falta de efetivo
Os 222 policiais – 50 formados para o Corpo de Bombeiros e 172 para a Brigada Militar – representam 1,2% do atual efetivo da corporação. Ainda que todos os novos alunos passem no curso, o déficit no policiamento ainda será próximo de 50%. Conforme o comandante, o Estado deveria ter 37 mil PMs, mas conta com 19 mil na ativa.
E a situação pode piorar. Somente até quarta-feira passada, segundo a própria Brigada Militar, 911 brigadianos se aposentaram neste ano – o número quatro vezes superior ao de novos alunos. A BM não projeto o total que vai para a reserva, pois trata-se de uma "decisão pessoal" do servidor. No entanto, a Associação de Cabos e Soldados da BM (Abamf) estima que o número chegue a 2,5 mil até o final do ano, incluindo aqueles que vão completar o tempo de serviço mínimo e os que já completaram, mas não se aposentaram ainda.
– Como não vai ter promoção nem concursos internos, o governo tirou os incentivos de permanência (dos brigadianos na ativa). Então, eles vão embora (para a reserva), porque não existe expectativa nenhuma – afirma o presidente da Abamf, Leonel Lucas.
Representando o governador na cerimônia de recepção nesta manhã, o secretário de Segurança Pública, Wantuir Jacini, não apontou uma solução imediata para o problema. Segundo ele, o planejamento do Estado é de que, até fevereiro de 2018, os 2 mil aprovados no último concurso sejam nomeados em etapas. Mas não existe, ainda, uma previsão da próxima turma de alunos.
– O governador, o secretário e o comandante querem é que venham todos os aprovados. Acontece que estão sendo chamados aqueles que a finanças do Estado permitem – limitou-se a dizer Jacini.