Os policiais militares de Jaguarão presos por tortura teriam escolhido as vítimas de espancamento por delação. Ao contrário do que se supunha, os policiais não sabiam de antemão quem iriam torturar para obter confissão de furto. Na verdade, eles teriam torturado primeiro um bandido que negou envolvimento e entregou um rival. E assim por diante até formar o grupo de cinco ladrões, que teria apanhado durante quatro horas em um local apelidado de "chácara da porrada". Outros com ficha suja teriam assistido à violência, poupados da violência, pois estariam entregando novos nomes.
"Nem todos apanhavam, tinha uns que não apanhavam porque davam dando delato para eles", confirma uma vítima que prefere não se identificar.
A busca por uma confissão de quem havia arrombado a casa de um policial e roubado a moto de outro, varou a madrugada do dia 7 de setembro, como explica essa mãe de família que teve o filho levado às 2h da manhã: "Parecia um extermínio, não foi só na minha casa que entraram. Eles estavam entrando assim, em tudo que eles viam".
Nas casas que não eram invadidas, os policiais usavam outros bandidos raptados como isca. O familiar de uma vítima narra a cena: "Diziam: 'abre a porta, que é tal fulano', o amigo do guri. Daí o guri abriu a porta e o brigadiano deu um tapa na cara direto, e dando com arma na boca".
Segundo moradores da periferia, durantes buscas por novos suspeitos, os PMs invadiam casas sem mandados e chegavam atirando. No processo, foi anexada a evidência coletada na casa de um dos agredidos de munição de calibre 40, de uso restrito da polícia. Testemunhas afirmam que os policiais usavam violência na abordagem, sem se importar com quem assistia. Ameaças teriam sido feitas antes e depois do espacamento, conforme reportagem da Gaúcha.
"Colocaram uma arma na cabeça dele (do suspeito), na frente da guria, aquela lá de dez anos e o guri pequenininho de três anos. As crianças se assustaram com aquilo, entraram em pânico. Nunca viram aquilo", lembra um parente da ação dos policiais ao invadir a casa.
Algumas vítimas apresentam sequelas. Seis policiais militares estão presos desde o dia 13. Um mecânico, amigo de um dos PMs, que teria auxiliado no crime, responde em liberdade mediante uso de tornozeleira. O Batalhão ao qual eles pertencem já apareceu na mídia por outros casos polêmicos, conforme reportagem da Gaúcha. Se condenados, eles podem ser expulsos da corporação.