O Batalhão da Brigada Militar de Jaguarão, de onde saíram os cinco policiais que estão presos por suposta tortura, é reincidente em episódios de abuso de poder.
Em 2011, um universitário pobre, negro e gay foi espancado em uma abordagem. A repercussão foi tanta que até jornais da Europa reportaram o caso tratado como racismo. Mas nem isso deteve as ameaças dos PMs à vítima, como contou Helder Santos, em reportagem para a TV Brasil na época:
"Depois que se tornou público, foi quando eu recebi a primeira carta de ameaças. A carta que falava o que eles pretendiam fazer comigo: que iam me pegar no Carnaval e iam me agredir, que iam me bater no solado dos pés para que não ficasse marca. Que isso não volte a se repetir com outras pessoas porque a gente ainda está na condição de lixo naquela cidade".
Com as ameaças, o estudante teve de abandonar a universidade e voltar para a Bahia, sua terra natal. A Corregedoria da Brigada Militar chegou a indiciar três soldados por lesão corporal, abuso de autoridade e injúria.
Em março deste ano, integrantes do mesmo batalhão invadiram o jornal local, o Pampeano. Eles não gostaram de uma reportagem e, antes de ser publicada, enviaram e-mail para o editor Aníbal Ribas, pedindo que não fosse divulgada. Baseado no direito de imprensa livre, Aníbal ignorou o aviso e foi surpreendido com a chegada de 8 policiais na sua redação.
"Me deram voz de prisão, sem mandado de prisão, me colocaram com as mãos para cima na frente dos meus funcionários, me revistaram e não me deixaram chamar um advogado em um primeiro momento", relata.
A invasão chegou a ser noticiada fora do Estado, pelo diário Folha de S. Paulo. Os policiais ainda tentaram entrar na Justiça para que a edição fosse tirada de circulação, pedido que foi negado.
Um outro caso que chamou atenção foi o de um jovem que postou uma foto de uma viatura em vaga para deficiente na cidade. O jovem também teria tido a casa invadida e sido intimidado por colocar a informação no Facebook.
A investigação do Ministério Público aponta o mesmo modo de agir na última denúncia: cinco policiais desta Brigada de Jaguarão teriam invadido a casa de cinco ladrões na madrugada com tiros e intimidações. Os bandidos teriam sido torturados durante quatro horas seguidas em um local apelidado de "casa da porrada".
Contraponto
O comandante Silvio Cesar Gomes Cardoso ressalta que os episódios acima citados são situações isoladas, que não remetem a uma orientação de agir dentro do 3º Batalhão de Policiamento de Área Fronteiriça. Sobre o caso do jornal e da foto no Facebook, ele afirma que os locais não foram invadidos. As pessoas envolvidas teriam apenas assinado termos circunstanciados por denegrirem a imagem da corporação. E sobre o episódio do universitário negro, ele afirma que não estava no comando na época.
A Gaúcha tentou ouvir o secretário de segurança, Airton Michels, sobre o assunto, mas a assessoria de imprensa informou que ele não irá se manifestar sobre o caso.