Muitos dos estrangeiros que escolheram o Rio Grande do Sul para viver ou para ficar algum tempo enfrentam dificuldades até conseguirem a regularização no Brasil. A Rádio Gaúcha foi ouvir alguns que estão em situação ilegal no país. Há casos de quem está há três meses e ainda não conseguiu um trabalho, vivendo de doações e de ajuda de voluntários.
A nova onda de imigração no Rio Grande do Sul, motivada principalmente pela entrada de ganeses através de Caxias do Sul em razão da Copa do Mundo, apenas trouxe à tona algo que já vem acontecendo há bastante tempo e que não é solucionado. As dificuldades que os estrangeiros enfrentam no Brasil, sejam os que entraram legalmente como turistas e decidiram ficar ou os que ingressaram ilegalmente e pedem refúgio argumentando perseguição religiosa ou política.
O peruano Dante, de 21 anos, buscava ajuda na Igreja Pompéia, acompanhado da namorada, a argentina Rossia, de 21 anos. Com um tom de voz baixo e sem querer dar muito assunto em razão da sua situação no país, que é ilegal, disse que decidiu procurar o Brasil para trabalhar.
“Vim para trabalhar”, diz o peruano.
Dante conta que o trabalho no Peru é muito difícil. Também que está para conseguir um emprego em Porto Alegre. Ele está há três meses vivendo de bicos.
“Estou há 90 dias. Durmo num prédio aqui por perto”, conta o jovem.
A conversa vai e vem e Dante volta a falar na falta de trabalho.
“Falta trabalho”, lamenta.
A argentina Rossia chegou no Rio Grande do Sul de ônibus. Conheceu o peruano Dante em Porto Alegre. Também escolheu o Brasil pelo mesmo motivo do namorado.
“Para trabalhar”, afirma a argentina.
Na Argentina, Rossia fazia bicos.
“Cuidava de crianças e de idosos”, conta a jovem.
Rossia está há dois meses em Porto Alegre e ainda sem prazo para regularização no Brasil. Não gosta de falar sobre o assunto, mas diz que está encaminhando a documentação.
“Em tramite, em tramite”, reclama a argentina.
Ao contrário do casal Dante e Rossia, o senegalês Lamin, de 20 anos, é bastante falante. Diz que chegou ao Rio Grande do Sul há quatro meses. Mais um que veio para o Estado em busca de trabalho.
“Eu vim por causa do trabalho. O trabalho no Senegal está bom, mas os salários são muito baixos”, afirma o senegalês.
O senegalês atualmente trabalha como ajudante de cozinha.
“Aqui eu trabalho no Press Café. Tá bom. Eu fiz curso de cozinha Aprendia a cozinhar”, comemora o jovem.
Apesar de admitir ter uma vida melhor no Brasil do que tinha no Senegal, segue enfrentando dificuldades. Lamin conta que os senegaleses chegaram em grupo e estão em diversas cidades brasileiras.
“Somos 400 senegaleses no Brasil. Estamos em Caxias, São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro...tudo”, destaca Lamin.
Gabriel, de 22 anos, é colombiano e está há três meses em Porto Alegre. Outro que diz que veio em busca de trabalho.
“Porque meu irmão mora aqui e ele me falou que aqui é muito bom, tem mais trabalho que no meu país. No meu país quase não tem oportunidade de trabalho”, lamenta o colombiano.
O colombiano conta a sua rotina para conseguir se sustentar.
“Os estrangeiros ficam sozinhos aqui. Se não tem gente conhecida, tem que sair na rua a buscar trabalho. Nesse momento não tenho trabalho. Estou procurando alguma indicação para poder pegar algum trabalho”, conta o jovem.
O também colombiano Jaimer, de 26 anos, acompanhava o amigo Gabriel. Chegou por indicação e a procura de emprego. Diferente do parceiro, já tem um trabalho.
“Por colegas que estão aqui faz muito tempo. Me falaram que tem muita oportunidade de trabalho. Eu tenho trabalho, tenho salário. Pude trazer minha família para cá. Moro com minha mulher e meu filho”, diz o colombiano.
Jaimer diz que é autônomo e que tem dinheiro suficiente para se manter.
“Trabalho como comerciante autônomo. Camelô. Tenho umas pessoas conhecidas que me deram trabalho pra gente com mercadoria. Então muito bom, muito bom negócio na rua”, comemora Jaimer.
Se no Brasil ainda enfrenta dificuldades, afirma que na Colômbia as coisas estavam muito piores.
“É uma pena dizer, mas na Colômbia está muito difícil trabalho e aqui muita oportunidade de trabalho”, lembra o jovem colombiano.
O ganês Abdul Rachid Zukeru, de 28 anos, recém chegou em Caxias do Sul, na Serra gaúcha. Veio para o Brasil com visto de turista para a Copa do Mundo e agora pede refúgio, alegando perseguição em seu país. Está provisoriamente no Seminário Nossa Senhora Aparecida. Ele conta porque decidiu deixar sua terra natal.
“Porque a economia lá está muito, muito ruim. Está muito, muito dura. Estamos achando muito, muito difícil. Imaginem que você compra algo e vai revender. Todo o lucro que você usa é somente para a sua família. Você não pode economizar nada para o seu futuro filho e filha”, lamenta Abdul.
Abdul deixou em Gana o pai e a mãe que, segundo ele, estão com saúde frágil. Também deixou a esposa e dois filhos. Um deles, inclusive, Abdul nem viu nascer, por estar em viagem ao Brasil. Ele conta porque escolheu o país.
“Eu decidi pelo Brasil, porque eu vi que é um país muito bom. Vocês gostam de pessoas. Vocês gostam de homens negros. Vocês consideram que todos somos uma família, um povo, você entende? E aqui tem dinheiro. Aqui você consegue um trabalho, você consegue dinheiro”, conclui o ganês.
O aquecimento da economia brasileira nos últimos anos vem aumentando a imigração no Brasil. Assim como o ganês Abdul, o peruano Dante, a argentina Rossia, os colombianos Gabriel e Jaimer e o senegalês Lamin, todos vêm em busca de uma vida melhor.
Na próxima reportagem, o que dizem as autoridades sobre a nova onda de imigração no Rio Grande do Sul.