Se fosse encontrado com vida, Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, seria encaminhado, por ordem da Justiça, ao Lar Acolhedor de Três Passos. A ordem foi emitida durante o desaparecimento do menino, em 8 de abril, pelo juiz Fernando Vieira dos Santos, da Vara da Infância e da Juventude, a pedido do Ministério Público.
Quando soube que o menino estava desaparecido, a promotora da Infância e da Juventude, Dinamárcia Maciel de Oliveira, pediu à Justiça, no dia 7, que suspendesse o prazo que havia sido dado em fevereiro ao pai, o médico Leandro Boldrini, para resgatar a relação com o filho. A promotora requereu que a guarda do menino, assim que encontrado, fosse imediatamente transferida para a vó materna. O juiz avaliou que, como não havia elementos sólidos garantindo que a avó poderia assumir a criança, Bernardo, ao ser encontrado, deveria ser levado ao Lar Acolhedor, onde ficam crianças com problemas em família.
Enquanto o MP apurava, desde novembro, suspeita de negligência afetiva e tentava realocar a guarda de Bernardo com famílias de amigos ou com algum parente, o próprio menino foi ao fórum da cidade fazer uma queixa. Na tarde da sexta-feira, 24 de janeiro, Bernardo, sozinho, subiu ao 4º andar do fórum, e procurou representantes do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cededica). Disse que sofria agressões e insultos verbais da madrasta e que o pai não o defendia, não lhe dava atenção.
O Cededica levou o menino até a promotora Dinamárcia. Ele conversou com ela por cerca de meia hora e relatou a indiferença e o desamor do pai e as rusgas com a madrasta. Dinamárcia já conduzia apuração sobre o caso de Bernardo, desde novembro, mas sem o conhecimento da família e do próprio menino. Depois de ouvi-lo e de receber resposta da avó materna, de que tinha interesse em ficar com o menino, a promotora ingressou com ação na Justiça, em 27 de janeiro, pedindo a guarda para a avó.
Em audiência no dia 11 de fevereiro, Leandro pediu uma chance para resgatar a relação com o filho. Foi dado prazo de 90 dias para a melhoria das condições do menino em família e nova avaliação ocorreria em audiência marcada para 13 de maio, às 11h, em Três Passos.
O caso que chocou o Rio Grande do Sul
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugolini, 32 anos, para comprar uma TV.
De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.
Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini _ que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município _, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvania Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo. O casal aparentava uma vida dupla, segundo relatos de amigos e vizinhos.
ÁUDIO: pai de Bernardo chama filho de "esse menino"