Lúcio Adolfo da Silva é o quinto advogado do ex-goleiro Bruno Fernandes, suspeito de ter mandado matar a ex-amante Eliza Samudio, desde o início do julgamento. Ele assumiu o caso em novembro do ano passado.
Adolfo já defendeu o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, em processos em Minas Gerais. Com mais de 1,2 mil júris em 25 anos de atuação, é considerado um dos mais experientes criminalistas do Estado. O advogado conversou com Zero Hora por telefone neste domingo. Confira trechos:
Zero Hora - Como está o goleiro Bruno? O senhor conversou com ele hoje (domingo)?
Lúcio Adolfo - Conversei, sim. Ele está muito tenso. Todos nós estamos apreensivos, pois esse é um momento muito crítico. Temos medo que algum aspecto do caso não tenha sido visto, então ficamos um pouco inseguros.
ZH - A defesa do jogador sustentava que a acusação de assassinato não tinha fundamento porque não havia o corpo da vítima. Entretanto, a partir do depoimento de Macarrão, a Justiça reconheceu a morte dela e mandou expedir o atestado de óbito. Como o senhor vê essa mudança?
Adolfo - A defesa discutia a ausência de prova material do crime. A juíza equivocadamente determinou a expedição do atestado. Ela se baseou nas palavras de Macarrão, que foi condenado e está preso. Como você pode acreditar nas palavras dele?
ZH - O senhor afirma que a acusação está muito instável. Por quê?
Adolfo - Veja bem: a denúncia inicial é o relato de um menor (Jorge Luiz Lisboa Rosa, 19 anos, primo de Bruno, que foi o primeiro a afirmar que Eliza não tinha simplesmente desaparecido), que agora a promotoria chama de mentiroso. Além disso, há poucos dias, começaram a fazer uma investigação de dois policiais que estão relacionados com o crime. Nem a acusação sabe muito bem que caminho tomar, eles estão completamente instáveis. Como alguém pode ir a julgamento enquanto outras pessoas do mesmo caso estão sendo investigadas? Como você pode expedir um atestado de óbito a partir das palavras de um homem que logo a seguir é condenado?
ZH - Quais argumentos o senhor usará no julgamento?
Adolfo - Basicamente, a ausência de provas. As palavras do Macarrão não valem nada, e nem as do promotor. O promotor chama o Macarrão de bandido, então como vai acreditar no que ele diz? Na realidade, o promotor sabe que não tem provas. A prova disso é que ele fez um acordo com Macarrão. O acordo é o seguinte: você reconhece a morte, eu te dou uma pena mínima e todo mundo fica satisfeito com o desfecho do maior escândalo do ano.
ZH - Em entrevista ao Fantástico, Jorge falou que seria muito ingênuo da parte de Bruno não saber que o Macarrão estava planejando aquilo. Como o senhor vê esse comentário?
Adolfo - Um cara que tem um salário de R$ 150 mil e deixa na mão de um amigo para gerenciar as contas, passa para ele todas as senhas dos cartões de crédito, isso não é ingenuidade? Isso será usado como argumentação. Podemos até aceitar que ele soubesse o que Macarrão estava planejando, mas não que ele foi o mandante.
ZH - Como o senhor avalia o trabalho do promotor Henry Wagner Vasconcelos até o momento?
Adolfo - Eu não acho ele uma pessoa leal. Não acredito que ele tenha compromisso com a justiça. Acho que o problema dele é a vaidade. Veja bem: o que é fazer justiça? É levantar as provas, é mostrar os dois lados do caso. Ele só está querendo acusar, e para isso chegou a fazer um acordo com o Macarrão e usou as palavras dele como verdade. As palavras de um cara que ele chamou de mentiroso. Eu acho ele desleal (o Ministério Público informou que o promotor Henry Wagner Vasconcelos não vai se manifestar antes do julgamento).