Solange Lompa Truda (*)
Sabemos que ao longo da primeira infância as crianças, à medida que se diferenciam e constroem sua identidade e autonomia, passam por momentos em que se manifestam através de birras e muita teimosia frente aos limites da socialização. É muito comum ter alguns comportamentos de rebeldia, afinal, elas ainda estão aprendendo a lidar com suas próprias emoções. Porém, é importante saber separar uma simples birra de situações mais intensas, que podem ser sinais de um transtorno de comportamento.
Os comportamentos esperados a cada fase do desenvolvimento infantil não podem confundir pais e educadores. A imaturidade está intrinsecamente ligada a quadros de desobediência e enfrentamento. Mas há diferenças evidentes entre o ser imaturo e o transtorno opositor desafiador, o TOD, que tanto preocupa os pais e educadores de hoje em dia.
Sabemos que não dar limites aos filhos e permitir que eles ajam da maneira que quiserem, em qualquer lugar, pode provocar tais atitudes. Notamos que a desobediência é algo até muito comum em crianças e adolescentes, mas conseguimos resolver com conversa ou manejos adequados.
Precisamos estar atentos ao comportamento da criança, principalmente quando birras, desafios e desobediências se tornam constante, fora do que é o esperado para a faixa etária. Nesses casos, o TOD pode se tornar uma hipótese, mas salientamos aos pais e professores que a distinção entre a desobediência, a birra e o TOD está na intensidade e na frequência com que a criança persiste em manifestar esse comportamento.
O transtorno opositor desafiador é caracterizado pela dificuldade para controlar impulsos e pela recusa em obedecer a solicitações ou regras colocadas pelos adultos, o que costuma gerar humor irritadiço e até mesmo comportamentos mais reativos.
Seus sintomas costumam aparecer normalmente antes dos oito anos e incluem um padrão de comportamento bastante desafiador, principalmente diante de figuras de autoridade e de pessoas que mostram os limites. Observamos que nessas crianças a tolerância contra a frustração é muito baixa, o que geralmente acaba provocando atitudes agressivas e impulsivas no seu dia a dia.
Sabemos que birras ocorrem em determinados momentos evolutivos, enquanto no TOD aparece em praticamente todos. É preciso ter muito cuidado ao acharem que todo comportamento desafiador da criança em fase de construção dos limites, entre os dois e os quatro anos, é transtorno.
Conhecimento das fases evolutivas da criança é fundamental para pais e educadores não cometerem tal equívoco. Devido à falta de informação, há quem confunda o transtorno com a imaturidade infantil ou a falta de limites da criança. Escutamos de alguns familiares ou professores expressões como "temperamento forte", "gênio difícil", usadas numa tentativa de explicar por que algumas crianças insistem em desafiar, desobedecer a regras ou discutir com os adultos.
Na nossa prática escolar e clínica, percebemos que o comportamento mais impulsivo dessas crianças pode ocasionar grandes dificuldades de socialização, além de tendência ao isolamento e problemas na escola. Toda vez que um comportamento leva a prejuízos sociais, afetivos e escolares, sugerimos aos pais que busquem ajuda profissional. Encaminhar para avaliação psicológica é o mais indicado, e deve ser uma prática adequada para educadores e colégios atentos.
Buscar tratamento adequado para que possam aprender a tolerar frustrações, ouvir os adultos e seguir as regras que fazem parte do cotidiano social, sem manifestarem descontrole emocional, é fundamental para a evolução e a inserção social da criança e do adolescente no seu processo de desenvolvimento e aprendizagem. E somente uma avaliação criteriosa com profissionais poderá diagnosticar adequadamente, para oportunizar a melhor evolução.
É preciso conhecer como são suas relações e seus comportamentos em outros espaços sociais. Acredito que a escola é uma grande aliada da família, pois é ali que a criança passa a maior parte de seu tempo, sendo estimulada e desafiada, interagindo com outros adultos, colegas, regras e limitações.
Uma boa comunicação entre pais e professores sobre o acompanhamento da criança no ambiente escolar facilita muito na identificação de possíveis problemas e futuros manejos. Quanto mais cedo buscamos ajuda profissional para auxílio e diagnóstico, menos prejuízos a criança terá no aprendizado escolar e na sua convivência social e familiar.
(*) Psicóloga clínica e escolar, especialista na infância e adolescência