Por Solange Lompa Truda *
Depois de uma separação, é natural que os adultos voltem a pensar em uma nova relação amorosa e iniciem a namorar. Observamos em nossa prática profissional que, quando o pai ou a mãe tem uma nova relação, é comum os filhos demonstrarem alguma mudança importante no comportamento, principalmente quando são crianças.
Para a maior parte das crianças, o início de uma nova relação para o pai ou a mãe mexe com a fantasia infantil que possuem, de reconciliar os pais e de vê-los juntos novamente. E é bem comum que isso gere sentimentos ameaçadores e de medo em algumas crianças.
Assim, quando surge uma terceira pessoa, a criança pode encará-la como uma real ameaça à concretização da sua fantasia onipotente de reconciliação, e este adulto pode passar a ser visto como um rival.
Sabemos o quanto todas as nossas relações afetivas requerem e demandam nossa atenção, e também percebemos o quanto a atenção dos pais está voltada para o bem-estar dos filhos após a separação. É natural que, com a chegada de uma nova pessoa, estejamos atentos a construir uma nova rotina que possa preservar a atenção a todos os envolvidos. As crianças precisam de estabilidade e trocas concretas de afeto e atenção, por isso, salientamos aos pais que é importante que as novas rotinas sejam alteradas gradualmente, respeitando as necessidades infantis e a capacidade de cada criança para lidar com a nova realidade. É importante que a gente possa cuidar para manter os laços afetivos nestes novos arranjos familiares, para que se tenha menos sofrimento e seja um processo natural para a criança, em que ela também se sinta parte — e não à parte.
Lembro que nós, adultos, sabemos que um novo companheiro não vem substituir o pai ou a mãe, mas as crianças podem e muitas vezes ficam confusas com a nova estruturação que está se formando. É preciso conversar e deixar bem claro aos filhos que papéis de mãe e pai são insubstituíveis. O novo namorado da mãe não vai substituir o pai, mesmo que o pai esteja ausente, e nem a namorada do pai vai tentar fazer o papel da mãe.
É um processo novo de adaptação para todos os membros, mas precisamos priorizar os filhos, a criança e os seus sentimentos frente a estas mudanças. Os vínculos são criados aos poucos, à medida que conseguimos oportunizar momentos de trocas com segurança e confiança a todos. A criança vai entendendo que se vincular ao novo namorado da mãe, ou à nova namorada do pai, não impacta na relação original com seus pais.
E quando nos perguntam sobre "qual a melhor hora" de contar aos filhos sobre o novo relacionamento, deixamos bem claro que o que vai definir o momento mais adequado será a solidez desta nova relação afetiva. O melhor momento é quando o novo casal tem certeza, ou pelo menos a intenção, de que não é algo passageiro. Do contrário, a criança se apega e logo perde de novo, o que gera uma insegurança emocional muito grande.
Também acreditamos que cautela e bom senso nunca é demais para nós, adultos. E, como adultos, devemos e podemos fazer o que estiver ao nosso alcance para evitar que nossos filhos sejam expostos a perdas sucessivas. Trata-se de reconhecer e valorizar que os sentimentos e necessidades de cada um têm o mesmo valor nesta nova configuração familiar que está sendo formada.
* Psicóloga da infância e da adolescência