Cristina Flores (*)
As doenças inflamatórias intestinais (DIIs) atingem cerca de 5 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, a prevalência chega a cem casos para cada 100 mil habitantes, com um número maior de diagnosticados principalmente nas regiões Sudeste e Sul.
As DIIs são doenças inflamatórias crônicas cujas principais representantes são a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. A doença de Crohn pode inflamar qualquer parte do tubo digestivo, porém as porções mais comumente afetadas são o final do intestino delgado (o íleo) e o lado direito do intestino grosso (cólon direito). A retocolite ulcerativa envolve o reto e o intestino grosso, sem afetar outras partes do tubo digestivo. Além disso, podem ocorrer manifestações inflamatórias fora do intestino como a pele, as articulações, o fígado, os olhos e pedras nos rins.
Estar atento aos sinais e sintomas é fundamental para iniciar o processo do diagnóstico das DIIs. Os sintomas mais comuns são a diarreia e a dor abdominal. Quando o intestino grosso está inflamado, o mais habitual é que a diarreia seja acompanhada de sangue e pus. Nos casos de doença de Crohn com estreitamento no intestino, o paciente pode ter constipação e bastante cólica. Nas formas mais graves, as manifestações incluem dores intensas, diarreia volumosa, febre, anemia, perda de peso, fraqueza e cansaço.
Apesar de poder afetar indivíduos em qualquer fase da vida, é mais comum na faixa etária entre 15 e 35 anos. As causas para o surgimento destas enfermidades ainda são desconhecidas. Entretanto, sabemos que os fatores ambientais como a ingestão de alimentos industrializados, uso de anti-inflamatórios e desequilíbrio da microbiota intestinal (disbiose), entre outros, contribuem para o desenvolvimento em indivíduos suscetíveis. Pessoas diagnosticadas com essas doenças apresentam outros casos na família, com uma frequência de 20%.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é feito pela avaliação dos sinais e sintomas clínicos e confirmado através de exames de sangue e de imagem. É consolidado por meio de exames de endoscopia no intestino, a colonoscopia. Em muitos casos, também é necessária a realização de exames de imagem como tomografia e ressonância magnética. Reconhecer os sinais, identificar os sintomas e buscar um médico gastroenterologista são fatores essenciais para a descoberta precoce e o tratamento adequado.
A nutrição também desempenha um papel importante no dia a dia de quem lida com o problema. Nesse caso, a melhor opção deve ser a implementação de uma dieta balanceada e saudável como o mínimo possível de alimentos gordurosos, açúcares refinados, processados e ultraprocessados. Mais detalhes sobre a dieta devem ser individualizados conforme o caso de cada pessoa. A introdução de uma atividade física regular também é recomendável, desde que seja sempre sob a supervisão de um profissional de saúde que possa avaliar e acompanhar as necessidades específicas do paciente.
O tratamento das DIIs varia de acordo com o tipo e o grau de inflamação e tem como principal objetivo manter a doença controlada. Nos últimos anos, tem surgido cada vez mais opções terapêuticas que não necessitam ser administradas em ambiente hospitalar, porém o tratamento deve ser supervisionado pelo médico ou acompanhado em centros de terapia assistida a nível ambulatorial. Existem medicações que devem ser administradas pela veia, outras, por via subcutânea.
A via subcutânea é uma alternativa interessante, especialmente para pacientes que vivem em regiões do Brasil mais afastadas e distantes de clínicas de infusão. Recentemente houve a aprovação e a incorporação de novas medicações de uso subcutâneo pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Uma destas terapias é o Infliximabe, remédio já consagrado e agora disponível para uso subcutâneo como uma alternativa valiosa para o tratamento destes pacientes. É importante destacar que os tratamentos para as Doenças Inflamatórias Intestinais são fundamentais para o controle dos sintomas e da inflamação, o que chamamos de remissão. Quando isso ocorre (a partir da adesão à terapia de maneira contínua sempre sob a orientação de um médico), o paciente consegue controlar a doença e recuperar a sua qualidade de vida evitando danos irreversíveis no intestino durante um período que pode durar meses e até anos.
(*) Gastroenterologista, diretora técnica do Centro de Tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais e Imunimediadas (DIImuno) e presidente da Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite (GEDIIB)