Aos 14 anos, o ex-atleta olímpico de natação Fernando Scherer, conhecido como Xuxa, procurou um médico para tratar os sintomas decorrentes da asma, como falta de ar e chiado no peito. Durante a consulta em Florianópolis, Santa Catarina, o especialista recomendou que o jovem começasse a nadar para controlar a doença respiratória crônica que atinge os brônquios (canais que levam o ar até os pulmões). Na época, não havia tantos medicamentos disponíveis para tratamento como atualmente e a natação era considerada um dos esportes mais completos.
— O médico falou: “Você vai aumentar muito sua capacidade aeróbica e vai desenvolver seus pulmões. Com isso, você vai ter muito mais capacidade de absorver o oxigênio e isso vai ajudar nos seus sintomas”. E aí eu entrei na escolinha de natação e fui melhorando gradativamente, até o ponto de me tornar medalhista olímpico e não sofrer mais com os sintomas da asma grave — relembrou Xuxa.
O ex-nadador compartilhou sua experiência com a doença durante o lançamento da campanha “Não deixe a falta de ar miar seu dia”, promovida pela biofarmacêutica AstraZeneca, com o objetivo de ampliar o conhecimento da população sobre a asma. O evento foi realizado em 16 de agosto, em São Paulo, e contou com a participação de médicos, pacientes e representantes da Associação Brasileira de Asmáticos (Abra) e da Associação Brasileira de Asma Grave (Asbag).
A campanha faz referência ao principal sintoma relatado pelos pacientes nos consultórios: o chiado no peito que parece o ronronar de um gato. Também ressalta a necessidade de um tratamento contínuo, já que se trata de uma doença crônica — ou seja, que não tem cura. De acordo com Xuxa, a prática diária do esporte ajudou a controlar sua asma, mesmo assim, às vezes ainda sente um “chiadinho leve”, por causa da rinite e do contato com seus cães e gatos.
Mauro Gomes, médico pneumologista, professor de Pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e um dos participantes do evento da AstraZeneca, explica que um ponto muito importante para o controle da asma é controlar os fatores que podem desencadear crises (poeira, umidade, mofo, contato próximo com animais, fumaça de cigarro e até mesmo outras doenças, como rinite, refluxo gástrico e sinusite). Segundo o especialista, 70% dos asmáticos também têm rinite alérgica, pois são os mesmos mecanismos de inflamação, então o tratamento precisa ser feito em conjunto, de maneira adequada.
Neste cenário, Gomes enfatiza que a prática de atividade física regular é fundamental para o controle da asma, por isso, afirma que muitos outros atletas iniciaram suas carreiras esportivas por serem portadores da doença:
Eu entrei na escolinha de natação e fui melhorando gradativamente, até o ponto de me tornar medalhista olímpico e não sofrer mais com os sintomas da asma grave.
FERNANDO SCHERER
Ex-atleta olímpico de natação
— Dados das Olímpiadas de Pequim mostram que 8% de todos os atletas declararam ter asma. E quando se compara na mesma modalidade os atletas asmáticos com aqueles que não têm a doença, os primeiros receberam duas vezes mais medalhas. Isso demonstra que a atividade física é boa para quem tem asma e que quem tem asma pode atingir um nível ótimo de controle da doença, onde pode desempenhar sua vida em plenitude e se tornar inclusive campeão olímpico.
A presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio Grande do Sul (SPTRS), Daniela Cavalet Blanco, concorda que os exercícios físicos são ferramentas importantes para os asmáticos, porque auxiliam na manutenção de um bom condicionamento cardiorrespiratório. Ela destaca que a prática dessas atividades deve ser feita de forma individualizada, cuidadosa e segura, permitindo o treinamento em intensidades diferentes e progressivas, de acordo com as limitações de cada um.
— Alguns asmáticos podem desenvolver crises com exercícios, especialmente os mais intensos, mas o uso de medicação inalada adicional antes da sua prática e o ajuste da intensidade do próprio exercício podem ser estratégias úteis — sugere.
Exercícios mais indicados e benefícios
Para iniciar a prática de atividades físicas e obter um bom desempenho, o asmático precisa estar estável, fora de períodos de crise, e manter seu tratamento regular. Luiz Carlos Corrêa da Silva, pneumologista da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, salienta que os melhores exercícios para essas pessoas são os aeróbicos, que envolvem bastante movimentos, porque têm um efeito anti-inflamatório muito importante.
— Às vezes, a pessoa faz pilates ou musculação e acha que basta, mas isso é exercício para a musculatura e para as articulações. Quando a pessoa se exercita, ela libera em algumas células do organismo um fator anti-inflamatório e, como a asma é uma doença inflamatória, os asmáticos são beneficiados pelo exercício — esclarece Corrêa da Silva.
Esse tipo de exercício também é fundamental porque auxilia no controle de peso. O especialista aponta que a obesidade é ruim para quem tem asma, porque no tecido gorduroso há muitas células inflamatórias, que pioram o quadro da doença respiratória.
Entre as opções, Corrêa da Silva afirma que a natação é considerada um bom exercício para asmáticos porque mobiliza a musculatura respiratória com intensidade, já que a pessoa precisa ritmar a respiração com os movimentos de braços e pernas. O coordenador do curso de Educação Física da Ulbra Canoas Daniel Carlos Garlipp explica que essa atividade gera grande capacidade de força nos músculos intercostais externos e na musculatura do diafragma, possibilitando maior troca gasosa. E acrescenta que, por ser praticada em ambiente de alta umidade, faz com que os atletas inalem menos alérgenos, como pólen e ácaros.
— Além disso, tem a questão da posição do corpo. Como o indivíduo fica em uma posição mais horizontalizada, acaba tendo uma menor resistência das vias aéreas, o que faz com que fique um pouquinho mais fácil gerar essa troca de oxigênio — diz o especialista em Fisiologia do Exercício, alertando que asmáticos não devem nadar em piscinas com muito cloro, porque o agente químico irrita as vias aéreas e pode desencadear crises.
O pneumologista Mauro Gomes sinaliza que algumas pessoas vão ter maior sensibilidade ao cloro e, por isso, podem não se adaptar à natação. Por isso, ressalta que ciclismo, futebol, basquete, tênis, vôlei e dança também são muito bons:
— A prática de qualquer um desses exercícios aeróbicos com regularidade vai ser excelente para quem tem asma. Não tem nenhum que seja contraindicado. Deve ser aquele que a criança ou o jovem se adapta melhor, tem mais facilidade e aptidão.
Os especialistas também destacam a necessidade de buscar o acompanhamento de um profissional da área física antes de iniciar a prática de exercícios.
Dificuldades no controle da doença
A asma é uma doença com base genética muito frequente e atinge mais de 300 milhões de pessoas no mundo, conforme dados apresentados por Gomes durante o evento da AstraZeneca. Trata-se de uma inflamação nas vias respiratórias, principalmente nos brônquios, que, quando estão inflamados, reagem exageradamente a alguns fatores (como poeira e mudanças de tempo) e se fecham, causando as crises de falta de ar e chiado no peito. Ela pode ser classificada em três níveis — leve, moderada ou grave — e inclusive levar à morte se não for controlada.
No Brasil, estima-se que de 10% a 20% da população tenha asma, o que faz com que a doença represente a quarta causa de internação pelo sistema público de saúde no país, aponta o pneumologista da Santa Casa de São Paulo. Na maioria das vezes, a enfermidade se apresenta de forma leve, mas todos os pacientes podem ter crises de falta de ar.
Apesar de não ter cura, o tratamento da asma é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e possibilita o controle da doença, permitindo que seus portadores levem vidas normais, sem limitações. Gomes afirma que há um arsenal muito grande de medicamentos para tratar essa enfermidade: alguns são utilizados de forma eventual no momento das crises, para resolver os sintomas agudos e evitar uma insuficiência respiratória, por exemplo, enquanto outros são de uso contínuo para manter a asma controlada, prevenindo crises futuras e evitando que tenham uma gravidade maior.
— A pessoa que tem asma normalmente começa com os sintomas na infância ou na adolescência e eles se prolongam durante a vida toda. Então, ela precisa de um medicamento regular para manter o controle da sua doença e para que possa fazer suas atividades normais do dia a dia, sem nenhuma limitação. Só que, infelizmente, não são todos os pacientes que conseguem se manter sob controle: no Brasil, nove em cada 10 pacientes com asma não estão controlados — alerta o especialista.
Esse dado, acrescenta, repercute em uma hospitalização por asma no país a cada quatro minutos e em uma morte decorrente da doença a cada cinco horas. Por isso, ressalta a necessidade de conscientizar os pacientes sobre a importância do tratamento regular, mesmo sem a presença dos sintomas:
— Convencer a pessoa de que ela precisa de um remédio mesmo sem sentir nada é muito difícil, porque os asmáticos acham que a asma é só uma crise e, quando acaba, acham que não têm mais a doença. Por isso é tão importante a disciplina da medicação regular. Quem tem asma precisa usar o remédio regular fora da crise, como prevenção, para que se evite crises maiores e se evite o risco de morrer.
O pneumologista Luiz Carlos Corrêa da Silva aponta que as infecções são as complicações mais frequentes que podem causar a hospitalização ou a morte de um paciente asmático.
Convencer a pessoa de que ela precisa de um remédio mesmo sem sentir nada é muito difícil, porque os asmáticos acham que a asma é só uma crise e, quando acaba, acham que não têm mais a doença.
MAURO GOMES
Médico pneumologista e professor de Pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
— Frequentemente, uma pessoa com asma só vai buscar assistência médica na hora de uma crise mais grave. Então, é importante que os asmáticos tenham consciência da doença e não fiquem achando que o medicamento usado eventualmente vai resolver tudo. Se tiver uma crise e não houver melhora em pouco tempo, tem que se dirigir logo a uma emergência — recomenda Corrêa da Silva.
A grande maioria dos medicamentos para asma são por via inalatória, conhecidos como bombinhas ou inaladores. Há diferentes opções de dispositivos, cada um com um tipo de medicamento e com uma função distinta. Sendo assim, Gomes reforça que as pessoas não devem se automedicar e precisam buscar atendimento médico para definir qual o tratamento mais adequado para o seu caso.
Asma grave
Em torno de 5% dos asmáticos desenvolvem o quadro grave da doença, que é quando, mesmo fazendo o tratamento preventivo regular e evitando os fatores desencadeantes de crises, o paciente segue com a asma não controlada. Segundo Mauro Gomes, para esses pacientes, há alternativas de tratamentos mais modernos, que atuam nos mecanismos básicos da inflamação, com os chamados imunobiológicos.
Daniela Cavalet Blanco acrescenta que essa é uma categoria de medicação que, quando bem indicada, pode melhorar muito a qualidade de vida do asmático, reduzindo a frequência dos sintomas e das crises, diminuindo as hospitalizações e visitas em emergências e melhorando a função pulmonar:
— A avaliação criteriosa, conduzida em centros de referência, por médicos especialistas em tratamento de asma, é fundamental para que a escolha do imunobiológico esteja correta e possa realmente beneficiar o asmático grave.
*A repórter viajou para São Paulo a convite da AstraZeneca Brasil