Dados da Central de Transplantes do Estado revelam que menos da metade das notificações de morte encefálica recebidas resultam em transplantes. Conforme documento que contempla informações de janeiro até junho de 2019, março foi o mês com maior número de notificações: 69. Contudo, apenas 19 doações foram efetivadas.
Dentre as causas mais comuns para a não efetivação, está a negação familiar.
— Atualmente, quem autoriza a doação é a família. Não adianta a pessoa deixar nada por escrito. Por isso, é importante que a pessoa fale para os parentes que deseja ser doador. No momento da morte, a família está abalada e preocupada com outras questões — diz a enfermeira especialista em doação e transplante Kelen Machado, da Santa Casa, em Porto Alegre.
Naida Machado, que há 18 anos atua como psicóloga da Central de Transplantes da Secretaria Estadual da Saúde (SES), acrescenta que 43% dos casos negativos ocorrem porque o parente não era doador em vida. Também são motivos questões religiosas e o desconhecimento sobre a morte encefálica – o paciente é mantido por meio de aparelhos, respirando, porém sem nenhuma atividade cerebral.
Depois dos transplantes, a psicóloga contata os familiares dos doadores para passar algumas informações, como a idade e o sexo do receptor. Segundo Naida, é um alento para quem perdeu um ente querido:
— Esse tipo de morte é diferente, geralmente trágico, inesperado. Isso ajuda na elaboração do luto, e os familiares ressignificam a perda repentina.
Receptores não contam com informações sobre doadores
Embora a Central dê esse retorno aos parentes, não é permitido divulgar o nome do receptor nem do doador aos envolvidos. O decreto 9.175, de outubro de 2017, estabelece que “Na hipótese de doação post mortem, será resguardada a identidade dos doadores em relação aos seus receptores e dos receptores em relação à família dos doadores”.
Kelen explica que a medida tem como intuito evitar que aqueles que perderam um familiar transfiram sentimentos ao receptor ou se frustrem em caso de o procedimento não dar certo.
— Até 2017, alguns Estados faziam a aproximação quando solicitado. O Rio Grande do Sul optou por não fazer. A doação tem que ser um ato de generosidade, solidariedade, sem pensar em receber algo em troca. Mas já tivemos situações em que o receptor escreveu para a família do doador — conta a enfermeira.
Lista de espera no RS
Os principais critérios que definem a escolha do paciente são tempo de espera e urgência. A lista é gerenciada pela central de transplantes de cada Estado. Nem o doador nem a família podem escolher para quem vão os órgãos.
De acordo com a coordenadora da Central de Transplantes da Secretaria Estadual da Saúde (SES), Sandra Coccaro, a última atualização da lista de espera no Estado, feita em 16 de agosto, contabilizava 1.451 pessoas. A maior procura é por rins, que soma mais de mil pacientes.
A lista de espera no RS (atualizada em agosto de 2019)
- Rim – 1.059
- Fígado – 148
- Córnea – 132
- Pulmão – 89
- Coração – 15
- Fígado-rim (órgãos tirados em bloco) –4
- Pâncreas – 2
- Pâncreas-rim (órgãos tirados em bloco) – 2
Outras partes desta reportagem