Com quase 160 mil seguidores no Facebook, frei Jaime Bettega é uma referência espiritual para muitas pessoas e diz que lê todos os comentários em sua página. Para ele, "a espiritualidade também supõe um autoconhecimento". Leia a entrevista.
Quais os benefícios para quem dedica tempo à espiritualidade?
O papel da espiritualidade é humanizar porque está na essência do ser humano ser um ser espiritual. O ser humano tem o corpo, o intelecto, a dimensão emocional, e também carrega consigo uma abertura à transcendência. Quando desenvolve a sua espiritualidade, ele está desenvolvendo a sua humanidade, tornando-se um humano mais pleno, mais completo. Quem dedica tempo à prática da espiritualidade está dedicando tempo para o cultivo interior, está olhando para a sua essência. Olhando para a sua essência, a pessoa também vai dar conta das demandas que são intrínsecas ao ser humano: harmonia, paz, aumentar sua capacidade de perdão. Quando ela dedica tempo à espiritualidade, também se torna mais leve, e consequentemente as relações humanas serão mais qualificadas.
O dinamismo dos dias atuais tem afastado as pessoas das práticas espirituais?
Penso que os nossos dias têm obrigado as pessoas a aumentar a velocidade devido a tantas solicitações e compromissos. A pressa tem marcado a vivência e a convivência. No meio de todo esse contexto de velocidade, a pessoa que tem espiritualidade também tem criatividade. Se ela não tem quantidade de tempo para a espiritualidade, ela vai poder qualificar os momentos espirituais. Nem todos vão ter tempo para se retirar e cultivar a espiritualidade, mas todos poderão, naqueles instantes, naqueles segundos, naqueles minutos, estar conectados espiritualmente, e isso traz um benefício de paz, serenidade, esperança e fortaleza em relação aos desafios da vida.
O senhor tem quase 160 mil curtidores em sua página no Facebook. Há uma boa troca com os fiéis nesse espaço?
Esse espaço acaba sendo onde percebo a lacuna que existe no mundo atual, no sentido de espiritualidade e de humanização, e através dessas trocas, daquilo que é próprio também de uma rede social, as pessoas acabam se alimentando espiritualmente. Nessa busca por algo não religioso, mas espiritual, acabo tendo pessoas com as quais faço trocas e também crio laços. Sinto o quanto tem sido importante manter esse espaço para poder dar às pessoas aquilo que elas não encontram no cotidiano e que talvez não tenham tempo para ir buscar, mas podem acessar em uma rede social. Leio todos os comentários. Àqueles que exigem uma palavra a mais, que chamam no reservado para colocar situações de vida, dedico-me a dizer alguma coisa. Tento responder em tempo aquilo de que as pessoas precisam. Sinto a responsabilidade de poder alcançar, todos os dias, algo para que as pessoas se alimentem espiritualmente.
Como se pode exercitar a espiritualidade fora dos espaços tradicionais, como a igreja?
A espiritualidade também supõe um autoconhecimento. Os nossos dias estão pedindo de nós qual é o significado da nossa existência, qual é o propósito da vida. Os espaços são os mais diversos. Às vezes, você está num ônibus, indo para o trabalho ou voltando, e pode praticar a espiritualidade tendo um momento de meditação, repetindo um mantra, frases, algum refrão. Penso que a espiritualidade acaba tendo o toque do individual, o que é característico de cada um. Mas a espiritualidade não é apenas “eu fico bem comigo mesmo”, ela também vai me permitir um encontro com o outro. A espiritualidade leva a uma ação solidária. Pegue a palavra “oração”, “ora” e “ação”, reza e faz. A espiritualidade não responde apenas a uma necessidade individual. Ela nos coloca na dinâmica da convivência e de atenção a quem está numa situação de vulnerabilidade.
O senhor escreveu há pouco que “O mundo necessita urgentemente de pessoas do bem para garantir uma ótima herança às novas gerações. Formar multiplicadores da bondade é um papel significativo”. Que outras qualidades estariam associadas às pessoas do bem?
Acho que são pessoas autênticas, transparentes, leves e capazes do desapego material, além de serem alegres no sentido de olhar a vida a partir de uma ótica da esperança.