Três anos atrás, as dores nas costas, a perda de peso, a dificuldade para se alimentar e para evacuar fizeram Sandro Luiz da Conceição, hoje com 47 anos, enxergar que era hora de procurar um médico. Após fazer exames, descobriu que o problema de saúde que oito anos antes havia sido identificado como hemorroidas se transformara, na verdade, em um tumor maligno. Em estado avançado. As esperanças dadas pelos médicos eram poucas, mas depois de 35 sessões de quimioterapia, outras 35 de radioterapia e uma cirurgia para a retirada do intestino e colocação de bolsa de colostomia, Sandro conseguiu se recuperar da doença. No começo, não nega, ficou com medo, mas depois decidiu “fazer a morte passar trabalho” se quisesse mesmo levá-lo. Com o apoio da esposa, dos dois filhos e da enteada, hoje leva uma vida normal, apenas com o cuidado de manter uma alimentação saudável e evitando os industrializados. No entanto, reconhece que mais informações sobre a doença poderiam ter lhe ajudado a descobri-la mais cedo e a tornar a estrada que percorreu menos sofrida.
– Acho que se tivesse mais divulgação eu não teria passado por isso. A gente fica mais atento quando é informado sobre alguma doença, se previne mais e, quando se pega no começo, tudo tem jeito – conta.
De fato menos conhecido que outros tipos da doença, o câncer colorretal é o segundo que mais mata em todo o mundo. Em homens é o terceiro mais recorrente e nas mulheres, o segundo, atrás apenas do câncer de mama. São 17,24 casos para cada 100 mil habitantes para elas e 15,44 casos pela mesma população entre eles. Somente em 2013 foram 15,4 mil mortes, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A obesidade, o sedentarismo, o histórico familiar e o baixo consumo alimentar de fibras são alguns dos fatores que ajudam a provocar a doença. Sangramento, alteração no funcionamento do intestino e dor abdominal podem ser sintomas, mas muitas vezes o câncer se desenvolve de forma silenciosa, tornando-o uma ameaça ainda mais perigosa.
– Se tiver sintoma nós já estaremos correndo atrás do prejuízo. O ideal é ir ao médico, fazer exames e tratar antes que os sintomas surjam – afirma o coloproctologista Roland Dagnoni, vice-presidente da Associação Catarinense de Coloproctologia.
No entanto, uma peculiaridade do câncer colorretal é a possibilidade de prevenção, ao contrário de casos como o câncer de mama e próstata, em que os esforços costumam ser voltados para o diagnóstico precoce. A colonoscopia é capaz de identificar pequenos pólipos que se formam na parede intestinal e que muitas vezes antecedem quadros de câncer. Ao retirá-los se evita que eles evoluam para um quadro maligno. O exame é indicado para pacientes a partir dos 50 anos e pode reduzir em até 53% a mortalidade por esse tipo de câncer. Uma barreira, no entanto, ainda é o preconceito em razão de o exame ser considerado invasivo – um tabu que já atrapalhou também os diagnósticos de câncer de próstata.
– Existe esse problema do preconceito, mas que é um mito perto dos benefícios que a colonoscopia pode trazer, perto do risco de desenvolver o câncer, de ter que ficar com uma bolsa de colostomia – alerta a oncologista do Hospital Santa Catarina Denise Machado.