Nos meses frios, é comum ouvir pessoas que tomaram a vacina contra a gripe reclamando que adoeceram mesmo assim. Acabam por duvidar da real eficácia da dose. Especialistas explicam que, com muita frequência, a tosse, a febre, a secreção nasal e a prostração são parte de um mal-entendido: o que parece gripe, e que seguidamente leva doentes a superlotarem as emergências dos hospitais em busca de atendimento, muitas vezes não é. Confunde-se a gripe "verdadeira", transmitida pelo vírus influenza, com quadros de síndrome gripal, de sintomas muito parecidos, mas que são provocados por outros vírus respiratórios, como o sincicial, o adenovírus e o rinovírus.
Para diferenciá-los, é necessário fazer um exame a partir da coleta de secreção nasal ou de orofaringe. Atualmente, são testados na rede pública apenas os casos mais graves, de pacientes que são internados em hospitais, para que se possa prescrever a medicação correta. Em outras situações, como a do doente que é atendido e medicado na emergência e mandado de volta para casa, o sistema público de saúde não custeia o procedimento – se o paciente quiser saber exatamente o que tem, é preciso pagar por conta própria.
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Outro aspecto importante a ser observado é que a vacina contra a gripe leva de 15 a 30 dias para proteger o organismo – pode-se tomar uma dose hoje e cair de cama, com uma gripe forte, na semana que vem, por exemplo. E, mesmo no período em que o corpo já se encontra devidamente resguardado, é possível ser infectado.
– A vacina vai te proteger contra as formas graves de influenza, mas não quer dizer que você não vai ficar gripado – salienta Eduardo Sprinz, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Os níveis de imunização variam. Para uma pessoa jovem e saudável, a proteção é de praticamente 100%. Em idosos e crianças pequenas, o nível se reduz a cerca de 60%. Ainda assim, salienta o infectologista Gabriel Narvaez, do Hospital Mãe de Deus, é fundamental buscar a aplicação:
– A vacina também tem como consequência diminuir a gravidade dos quadros. Mesmo não se evitando a influenza, é um quadro mais leve, com atenuação dos sintomas. A internação hospitalar diminui muito.
A campanha nacional de vacinação foi encerrada no Rio Grande do Sul, em junho, sem que se atingisse a meta de imunização de 90% dos integrantes dos grupos prioritários (crianças, gestantes, idosos, indígenas e doentes crônicos, entre outros), o que deixa a população mais vulnerável. De abril até agora, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, chegou-se a 87% de vacinados, contra 94% no ano passado. As doses restantes continuam sendo administradas até que terminem os estoques – os interessados devem consultar as unidades básicas de saúde dos municípios para saber se ainda há vacinas disponíveis.
Narvaez destaca que a vacina, se feita agora, poderá proporcionar proteção apenas para a parte final do inverno – mas, ainda assim, é melhor fazê-la do que abrir mão dela, e a repetição anual imuniza melhor o indivíduo.
– Somos muito mais adeptos, na idade adulta, da medicina curativa do que da preventiva, o que é uma lástima – reflete.
Menos mortes do que no ano passado
Apesar dos 30 óbitos registrados até o dia 20 deste mês chamarem atenção da população, o número de mortes por gripe no Estado é 6,5 vezes menor do que o registrado no mesmo período de 2016. Até o início de julho daquele ano, foram 195 mortes. Em todo o ano passado, o número de mortes por influenza chegou a 212.
Para a Secretaria Estadual da Saúde, a diferença nos números pode ser relacionada à alteração no tipo de vírus predominante neste ano, que mudou da influenza A H1N1 para A H3N2 – subtipo que também predominou em 2015 e 2014. O H3N2 é considerado mais brando, enquanto o H1N1, que ocasionou uma pandemia em 2009, ainda sofreria modificações que afetam os pacientes de forma mais grave.
– O comportamento epidemiológico da influenza é cíclico. Ou seja, periodicamente, observa-se alternância dos tipos de vírus de influenza com maior circulação: quando um tipo de vírus é mais prevalente, os outros têm uma menor expressão – esclarece Tani Ranieri, chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica da secretaria.
A vacina contra a gripe, ela explica, não tem eficácia tão grande quanto outras – como a que combate o sarampo, por exemplo – a ponto de garantir imunidade total. Contudo, as estatísticas apontam que a grande maioria dos óbitos relacionados à gripe, cerca de 80% em níveis nacional e estadual, estão associados a pacientes que apresentam fatores de risco: são pessoas que já tinham algum problema de saúde, como diabetes, obesidade ou doença cardiovascular, ou fazem parte de grupos com maior vulnerabilidade, como idosos, crianças e gestantes.
Importante!
Devem procurar as emergências apenas os pacientes com sintomas mais graves, como febre alta que não cede, falta de ar, prostração extrema e forte dor de cabeça. Casos de mal-estar não tão intenso podem ser atendidos nos postos de saúde e consultórios médicos, para que os hospitais não fiquem sobrecarregados.
A vacina
– Para produzir a vacina contra a gripe, geralmente se utilizam as cepas do vírus influenza que mais circularam nos seis meses anteriores à fabricação do produto. Pode ocorrer um descompasso: por vezes, quando a vacina fica pronta, o vírus predominante já é outro.
– Atualmente, a vacina contra a gripe disponível para a população é composta por imunizantes contra duas cepas da influenza do tipo A, o H1N1 e o H3N2, e contra a influenza B.
– Existem a vacina trivalente e a quadrivalente – nesta, há duas linhagens da influenza B, chamadas Victoria e Yamagata, enquanto na trivalente há apenas uma (Victoria). Escolher qual delas aplicar depende da prevalência do vírus B, habitualmente minoritário em relação ao A.
– Nesta estação, no Brasil, o sorotipo H3N2 responde pela maior parte dos casos, repetindo o que ocorreu em 2015. No ano passado, a presença do H1N1 – que provocou pânico na pandemia global de 2009 – foi mais marcante.
– Após a aplicação, o tempo médio para a vacina fazer efeito é de 15 a 30 dias.
Como se prevenir da gripe e de outros vírus respiratórios
– Lave as mãos com frequência.
– Ao tossir ou espirrar, cubra o nariz e a boca com um lenço, de preferência descartável, evitando que secreções se espalhem e propaguem a doença. Na falta de um lenço, faça uma proteção com a dobra do cotovelo, para não contaminar superfícies com as mãos.
– Evite o contato direto com pessoas doentes e não compartilhe alimentos, copos, toalhas e objetos de uso pessoal.
– Não fique em aglomerações. O contato muito próximo com várias pessoas, em locais fechados, facilita o contágio.
– Mantenha os ambientes arejados.
– Alimente-se bem e beba bastante água.
– Agasalhe-se nos dias frios. Proteja as mãos, os pés e a cabeça.
– Não se automedique. Busque atendimento médico.
*Colaborou Guilherme Justino